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América Latina se fortalece como centro de conectividade global

O início das atividades do evento LACNIC 40 / LACNOG 2023 focou nas questões de conectividade e transmissão de dados, e no papel relevante da América Latina no cenário de redes internacionais.

Fortaleza, Brasil. – Cada vez mais fornecedores e governos estão investindo na região, não apenas para conectar os países latino-americanos entre si, mas para converter algumas cidades latino-americanas em centros de conectividade internacional, com infraestrutura de data center e cabos submarinos que ligam o sul do continente com os países do norte, e com outros continentes, como Europa e África.

Os painelistas das sessões do 2º dia de atividades do LACNIC 40 / LACNOG 2023 explicaram isso durante suas diversas participações.

O fórum, realizado no centro de convenções do Hotel Praia Centro, em Fortaleza, Brasil, começou na segunda-feira, 2 de outubro, com diversos tutoriais. A conferência inaugural, porém, foi realizada na terça-feira, dia 3, dando bandeira oficial às atividades organizadas tanto pela equipe de LACNIC –que é o Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe– quanto pelo Grupo de Operadores de Rede para a América Latina e o Caribe (LACNOG).

Durante o discurso de abertura, o vice-presidente da Diretoria do LACNIC, Evandro Varonil, ficou satisfeito com a presença de mais de 700 pessoas presenciais e cerca de 550 participantes virtuais, o que representa um aumento considerável em relação a um dos primeiros eventos foram realizado em Salvador da Bahia, em 2008. Naquela época, LACNIC14 contou com a participação de cerca de 250 pessoas, disse ele.

Varonil comentou que os fóruns de LACNIC são espaços de networking e capacitação de operadores de rede, bem como de profissionais interessados ​​em infraestrutura e governança da Internet. Para concluir a sua participação, o gestor insistiu na necessidade de avançar na implementação do IPv6: “esse é o caminho da Internet e todos temos que contornar isso”, disse.

Cabos submarinos aumentam na região

Não é por acaso que o local do evento é Fortaleza, já que esta cidade é o centro de um dos cabos submarinos mais importantes do mundo, conectando diretamente a América Latina, através do Brasil, com a África e a Europa.

A primeira conferência de abertura começou com um painel de especialistas dos principais fornecedores de infra-estruturas de cabos submarinos da região, incluindo expositores da Angola Cables, EllaLink, Seaborn Networks, Telxius, TI Sparkles e VTal, que falaram sobre os desafios da conectividade global.

Foto: Computer Weekly Brasil

O painel foi moderado por Rogério Mariano, Global Head of Edge Strategy da Azion, que fez uma apresentação introdutória na qual apresentou dados relevantes sobre a importância do cabeamento submarino na região.

Rogério Mariano explicou que a troca de informações é actualmente um dos parâmetros que determinam o valor das águas territoriais dos países, depois da pesca, da abertura de portos que permitem o transporte de cargas e do controlo de zonas económicas exclusivas.

Cabos subaquáticos transportam mais de US$ 15 trilhões em transações diárias, disse Mariano. Acrescentou que, quando um cabo subaquático é instalado num país, abre-se a oportunidade para empresas com operações multinacionais desenvolverem negócios, ajudando a aumentar o PIB do país em até 2 ou 3% nos anos seguintes.

Em suma, os cabos estão expostos a falhas causadas principalmente por descuido humano: 33% dos danos relatados são resultado de atividades pesqueiras, enquanto 43% são devido ao arrasto de âncoras, embora este incidente não seja tão comum como a pesca. O executivo da Azion mencionou um incidente recente, ocorrido em setembro deste ano, em que um navio mercante que chegou a Cabo Frio arrastou âncora e rompeu um cabo da empresa Cirion, além de danificar um cabo da empresa Vtal. afetou até um gasoduto da empresa Equinor.

Além dos riscos de fracasso, os projetos de cabos submarinos enfrentam desafios económicos, incluindo a sublocação de capacidade a fornecedores de serviços de Internet e a necessidade de atualizar a infraestrutura, uma vez que a maioria dos cabos tem uma vida útil de 18 a 25 anos.

Por fim, Rogério Mariano mencionou três desafios que devem ser resolvidos no futuro:

  1. Criação de um ponto de contato federal entre as agências reguladoras de cada país latino-americano com outras agências governamentais federais, estaduais e locais, bem como organizações públicas e privadas interessadas em cabos submarinos.
  2. Tornar a fiação subaquática uma questão de segurança nacional.
  3. Oferecer maior segurança jurídica a investimentos multimilionários em infraestrutura de cabeamento subaquático.

Após a apresentação de Rogério Mariano, os expositores das empresas patrocinadoras falaram brevemente sobre o que cada uma de suas organizações está fazendo na região. Participaram Lucenildo Lins de Aquino Junior, da Angola Cables; Leonardo Almeida, gerente de redes IP da Seaborn Networks; Fabio Montero da IT Sparkles; Rafael Lozano da EllaLink, Fabio Laguado, Head of Sales e Country Manager US da VTal Data Centers e Esther Fernández, diretora de estratégia de interconexão da Telxius.

Segundo Esther Fernández, 99% do tráfego mundial de dados é transmitido por cabos submarinos, e não por via aérea ou satélite. O porta-voz da Telxius acrescentou, na sessão de perguntas e respostas, que anteriormente a comunicação com a Europa era feita através dos cabos que ligavam aos EUA e daí à Europa, mas com os cabos que ligam o Brasil à Europa, mas também redundância caso um dos cabos superiores sofra corte ou dano.

Uma sombra se esconde

Embora Fortaleza tenha se posicionado como um porto de grande importância para a conectividade entre a América Latina e a África, o governo do Estado está prestes a conceder licença para uma usina de dessalinização que ficaria localizada muito próxima aos cabos submarinos, o que representa um risco latente e constante danos ou cortes nesses cabos.

As informações veiculadas na mídia brasileira mostram que os estudos ambientais foram concluídos e aguardam validação da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). A previsão é que o projeto receba investimentos de mais de R$ 520; As obras começariam no primeiro semestre de 2024 e entrariam em operação por volta de 2026.

Taxas justas para custos de transmissão

Quem deve pagar pela geração e distribuição de conteúdo na internet? Especialistas do LACNIC, Abrint, ALAI, Internet Society e da Associação de Operadores de Pontos de Troca de Tráfego da América Latina e do Caribe, LAC-IX, discutiram este tema durante o painel Fair Share do LACNIC 40.

Foto: Computer Weekly Brasil

O debate, centrado nas grandes operadoras de telecomunicações e geradoras de conteúdo, abordou propostas como Cost Sharing, Sending Party Pays e Fair Share.

Participaram Cristiane Sanches, líder do Conselho Abrint; Paula Bernardi, Conselheira Sênior de Políticas e Defesa da Sociedade da Internet; Gabriel Adonaylo, coordenador da LAC-IX (Associação dos Operadores de Pontos de Troca de Tráfego da América Latina e do Caribe); e remotamente, Raúl Echeberría, diretor executivo da Associação Latino-Americana de Internet (ALAI). O moderador foi Oscar Robles, diretor executivo de LACNIC.

LACNOG, o espaço para Operadores de Rede

À tarde, tiveram início as sessões do LACNOG 2023, entre as quais se destacou a conferência de Rich Compton, Engenheiro de Infraestrutura de Rede da Charter Communications e membro do Grupo de Trabalho Anti Abuso (LAC-AAWG), sobre como o tráfego de ataque DDoS pode ser detectado e compartilhou algumas ferramentas que podem ajudar nessa tarefa, incluindo um relatório da organização sem fins lucrativos Shadowserver, uma listagem do CableLabs dos IPs de origem que são a origem do tráfego DDoS, um serviço de relatórios de falsificação spoofing de CAIDA e um projeto que ele lidera, Tattle Tale, no Github.

A América Latina está posicionada como um centro de conectividade global

A sessão de abertura da tarde da LACNOG foi liderada por Peter Wood, que falou sobre o papel da América Latina no mercado de conectividade internacional.

Foto: Computer Weekly Brasil

Peter Wood é analista da TeleGeography, empresa de consultoria e pesquisa para o setor de telecomunicações. Wood gerencia projetos em redes comerciais de satélite, redes ISP no Brasil e regras de preços de largura de banda no Caribe.

Segundo Wood, o preço de conectar a América Latina é historicamente mais alto do que regiões como a Europa e os Estados Unidos. No entanto, a diferença de preços entre a América Latina e essas regiões diminuiu consideravelmente, coincidindo com um aumento da capacidade na região. Esta nova dinâmica corresponde a um grande aumento do investimento e da concorrência no mercado latino-americano de conectividade, explicou.

O analista destacou um crescimento de 39% no uso de largura de banda internacional da América Latina entre 2021 e 2022.

“O Brasil é o líder regional, com alto consumo de largura de banda internacional. O México segue em segundo lugar, e depois o Chile. Em termos de crescimento, existem mercados menos consolidados como Uruguai, Guatemala e Equador, que estão expandindo seus perfis mais rapidamente”, explicou.

“Considerando a chegada de tecnologias como a inteligência artificial, é muito provável que a procura por conectividade continue a aumentar a um ritmo acelerado. A verdade é que já estamos vendo isso, com novos projetos sendo anunciados com frequência em 2023, depois de um 2022 em que não houve lançamento de novos cabos conectando a América Latina”, acrescentou Wood em entrevista ao blog do LACNIC.

Relativamente ao aumento da procura para estabelecer hubs de centros de dados e cabos submarinos na região, Peter Wood comentou que é o resultado de uma maior concorrência, preços competitivos, um ambiente regulatório favorável ao crescimento e ao investimento, elevada procura e infra-estruturas robustas. em cabos submarinos, mas também em data centers e conectividade em nuvem. “Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Cidade do México são exemplos desses hubs. E vimos que mercados como Bogotá, Santiago, Lima e Fortaleza estão se posicionando como potenciais centros de crescimento semelhante”, concluiu.

Para finalizar sua apresentação, Wood deixou as seguintes considerações ao público:

  • Novos sistemas de cabeamento estão sendo desenvolvidos na região.
  • Isto aumentará a capacidade e atrairá mais concorrência.
  • O trânsito IP está se tornando mais barato.
  • Os resultados são visíveis num maior tráfego local e intra-regional.
  • O investimento em infra-estruturas continuará devido à necessidade de actualização de antigos cabos submarinos, bem como à incorporação de novos cabos.
  • Se o investimento em infra-estruturas for mantido, os mercados metropolitanos primários e secundários serão fortalecidos.

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