Saiba quais foram as principais tendências apresentadas no MWC em Barcelona

No evento virtual, especialistas relembraram tendências em conectividade que avançaram na Espanha e prometem deslanchar no Brasil.

O Pós-MWC, evento online organizado pela Futurecom no dia 4 de abril, reuniu especialistas que debateram temas de destaque do último Mobile World Congress (MWC) 2023, o maior evento de conectividade do mundo.

Estavam presentes Ari Lopes, gerente da Omdia, Abraão Balbino, superintendente executivo da Anatel, Luiz Henrique, presidente da Telcomp, Jacqueline Lopes, diretora de relações institucionais da Ericsson, entre outros profissionais.

Ari Lopes deu início à discussão revelando as temáticas centrais do MWC. A primeira delas foi economia de rede e política pública. "Conforme a Omdia antecipou, os formuladores de políticas estão mais abertos do que nunca ao tema da contribuição justa", notou o painelista. Outro assunto de relevância foi a sustentabilidade, com destaque para a emergência de uma nova visão de rede green-native. Por fim, um terceiro assunto chave do congresso foi a relevância das redes, principalmente a Open Gateway e outras iniciativas de interfaces de programação de aplicações (APIs, na sigla em inglês).

"Além disso, houve debates sobre o surgimento de novos modelos de compartilhamento de infraestrutura, que é um movimento global para as telcos. Estamos falando, por exemplo, da criação de redes neutras", ressaltou o gerente da Omdia.

Outro tópico do MWC foram os eSIMs, vistos com apreensão pelas diretorias dos provedores de serviço em nuvem. Questiona-se, por exemplo, se há oportunidades para além da digitalização dos chips e quais são as intenções da Apple com a adoção do chip virtual.

O 5G também recebeu espaço no evento. "Por enquanto, nota-se impaciência e um sentimento de decepção. O sucesso do Fixed Wireless Access (FWA) foi satisfatório, mas o que virá para além disso?", disse Lopes. No que se refere ao metaverso, o MWC revelou que a maioria dos provedores de serviço em nuvem ainda estão se familiarizando com a ideia, e seus papéis ainda não foram bem definidos.

Exposição de rede e APIs abertas

Os anúncios de APIs e as discussões sobre exposição de rede receberam protagonismo no MWC. Na análise da Omdia, isso reflete uma busca das empresas do setor de conectividade por novas fontes de receita. Para exemplificar, a Open Gateway, iniciativa da GSMA, uma organização mundial de telecomunicações, foi lançada com o apoio de 21 operadoras de rede móvel e provedores de nuvem pública.

A indústria nem sempre esteve aberta a iniciativas de exposição de API para desenvolvedores, mas esse cenário mudou devido às novas capacidades do núcleo 5G, ao uso interno e à habilidade de alcançar desenvolvedores através de provedores de nuvem pública. "O que chama atenção é a quantidade de empresas que já estão fazendo parte da iniciativa, além do fato de já existirem operadoras de cloud participando", opina Lopes.

IA e ML para melhorar a experiência do cliente

Durante o MWC, foi comentado o aumento do uso da inteligência artificial (IA) e do machine learning (ML) para equilibrar a performance de serviço e a manutenção preditiva, a fim de minimizar interrupções ou degradações. Nesse sentido, a Nokia anunciou a AVA Customer and Mobile Network Insights, uma solução de software analítico cloud-native com ferramentas de AI e ML que permitem tomadas de decisão automatizadas e inteligentes, com base em redes de dados 5G.

De maneira similar, a Microsoft e a Amdocs anunciaram a Intelligent Customer Engagement Platform, focada no domínio OSS/BSS, que será integrada ao conjunto de soluções de ponta a ponta da Amdocs e explorará simultaneamente as capacidades da plataforma da Microsoft Dynamics 365 e a Microsoft Cloud.

A Microsoft ainda anunciou uma prévia pública da Azure Operator Insights, que habilitará a coleta e a análise de dados de rede para ajudar operadores a compreenderem a saúde de suas redes e a qualidade da experiência de seus assinantes.

Diferentes serviços de 5G

Os painelistas do evento da Futurecom destacaram o 5G FWA como a "estrela do MWC". Durante o evento em Barcelona, falou-se sobre como empresas como Ericsson e Nokia estão percebendo um crescente interesse por parte das telcos e inovando para melhorar a qualidade e o alcance de seus serviços. A Verizon Business, em especial, está investindo massivamente no 5G FWA para negócios.

Já o 5G Multi-Access Edge Computing (MEC) ainda encontra-se nas fases iniciais de seu desenvolvimento, mas está caminhando na direção correta, segundo os profissionais. O MEC diz respeito a um tipo de arquitetura de rede que oferece recursos de cloud computing e um ambiente de serviços de TI na borda da rede. Cada vez mais, companhias começam a testar essa tecnologia, a exemplo da Verizon Business e da Accedian. No entanto, a Omdia prevê que o lançamento comercial do 5G MEC não ocorrerá antes de 2024.

Quanto ao network slicing do 5G, uma das conclusões foi de que a maior parte dos provedores ainda está em um "modo de espera" devido à falta de informações sobre os benefícios reais e ao ritmo lento da implantação do 5G standalone. O tema não recebeu grande ênfase em Barcelona, exceto por uma sessão da Telefonica dedicada a apresentar diferentes casos de uso.

A monetização do 5G foi outro assunto discutido. "Foram abordados os três pilares dessa monetização, que são: o FWA, uma tendência crescente no mundo e no Brasil, que possibilitará muitas oportunidades; o network slicing, que habilitará diferentes casos de uso com o 5G e transformará a experiência do usuário; e as redes privadas", detalhou Jaqueline Lopes.

"O network slicing funciona bem para o business-to-consumer (B2C) e para o business-to-business (B2B) porque traz aplicações em que a experiência do usuário (que pode ser uma empresa, inclusive) será muito utilizada pelas especificações da rede", complementa Daniela Martins, diretora de relações institucionais e comunicação da Conexis.

O cenário brasileiro

Os painelistas da Futurecom concordaram que a monetização do 5G no Brasil ainda encontra barreiras, embora a tecnologia e espectro estejam disponíveis e as operadoras já atuem na frente B2B. Para Abraão Balbino, a rentabilização exigirá que se crie um ecossistema do 5G no país. "Mas, para isso, é preciso superar o desafio das licenças, do compartilhamento de infraestrutura e até a desinformação sobre o 5G. Por exemplo, até hoje existem pessoas dizendo mentiras, falando que as antenas do 5G causam câncer", critica o profissional.

Abraão também falou sobre a Lei das Antenas (Lei 14.424/2022), que estabelece normas gerais para implantação e compartilhamento da infraestrutura de telecomunicações: "Nós [da Anatel] temos atuado para tentar difundir um projeto padrão, um modelo que se aplique a todos os municípios, e levar isso às municipalidades, mostrando que, sem isso, elas não terão estruturas de telecom de qualidade".

O especialista enfatiza que isso é desafiador em um país do tamanho do Brasil. "Também estamos falando de um país com dificuldades de interlocução política, que tornam esse trabalho mais lento. É um trabalho de convencimento", acrescentou.

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