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Especialistas debatem tendências tecnológicas para o agronegócio brasileiro
Os palestrantes do último Meetup Futurecom Agro conversaram sobre as diferentes maneiras de promover jornadas de transformação digital no campo.
O evento online Meetup Futurecom Agro ocorreu no dia 16 de maio e contou com a participação de especialistas que estiveram presentes na edição mais recente da feira internacional de tecnologia agrícola, a Agrishow. Dentre eles, estavam Caique Paes, coordenador geral na Associação Rede ConectarAgro, Juliana Chini, gerente sênior de marketing da Arable para a América Latina, Leonardo Cruz, fundador da startup Matchfood, e Mauro Periquito, associate partner na Kyndril. Os temas da conversa foram os pontos mais relevantes da Agrishow e as tendências tecnológicas que prometem transformar o mundo do agronegócio.
Os especialistas ressaltaram, a princípio, que é urgente levar tecnologia e conectividade aos estabelecimentos rurais no Brasil, onde ainda existem vários problemas de cobertura, energia e transmissão. "Temos mais de 5 milhões desses estabelecimentos no país, mas a maioria das propriedades nas zonas rurais está fora da cobertura das operadoras", enfatiza Chini. "Podemos melhorar esse cenário por dois caminhos: cobertura pública e redes privativas. Antes pensávamos muito em Wi-Fi, mas essa não é uma tecnologia apropriada para espaços abertos, de grandes distâncias. É necessário trazer ao produtor uma própria conectividade, para que ele seja mais independente. A ideia é ter mais mecanismos para levar mais conectividade aos lugares onde a rede pública não atende plenamente".
Na mesma linha de raciocínio, Paes argumenta que não basta que a sede das propriedades tenham conectividade, é preciso conectar toda a lavoura: "Isso permitirá que as máquinas e equipamentos comuniquem entre si e também com a sede, o celular ou outro equipamento do gerente da propriedade rural. O desafio é mesmo levar a conectividade para toda a área rural, seja com redes privadas ou públicas".
No entanto, Cruz ressaltou que tornar o campo mais conectado também exige um trabalho de educação com os produtores rurais e as cooperativas. Por exemplo, deve-se ensiná-los a utilizar os aplicativos e dispositivos conectados, bem como coletar seu feedback frequentemente. "Trazer a tecnologia para o campo é um trabalho que exige a participação de diversos atores", resume o especialista.
Destaques do Agrishow
Em relação ao último Agrishow, os participantes do evento destacaram a presença de empresas de tecnologia e telecomunicações. "Vimos operadores como a Vivo e a Tim com espaços no Agrishow, algo que seria impensável há alguns anos. Isso mostra como o ecossistema do agronegócio hoje em dia envolve gestão agrícola, tecnologia de comunicações e tecnologia de gestão de redes", pontua Paes.
O especialista também comentou que um grande destaque da feira foi o robô Solix Hunter, da empresa Solinftec, que atua no controle de pragas no período noturno e é alimentado pela energia solar. "Percebemos como a tecnologia brasileira, sobretudo as agritechs, tem um grande potencial de exportação", avalia.
Mauro Periquito, por sua vez, deu ênfase ao uso de satélites em órbita baixa (LEO), que possibilitam levar internet às lavouras com uma maior velocidade. "O delay do sinal é muito menor. Além disso, o LEO possui vantagens em comparação à fibra óptica, como o fato de que esta muitas vezes pode ser danificada facilmente por máquinas ou mesmo o gado", afirma. A rede de satélites em baixa órbita pode servir para escoar o tráfego de dados da fazenda a um data center, à nuvem ou mesmo à casa do produtor rural.
A gerente sênior da Arable também falou sobre o dispositivo exibido pela empresa na feira: "Apresentamos a disponibilidade comercial do Mark 3, um dispositivo de monitoramento agrícola e comunicação, que faz a captação de dados referentes ao clima, à planta, ao solo e ao fluxo de irrigação".
IA e agronegócio
Os participantes do evento analisaram qual será o papel da inteligência artificial (IA) no setor de agronegócio brasilerio. "A IA vem para ajudar principalmente na gestão dos maquinários, algo mais complexo que o trabalho operacional diário. Ela virá para facilitar o trabalho dos agricultores e das cooperativas, não para substituir o elemento humano, mas para agir como o 'olho do produtor' dentro da lavoura, fornecendo informações sobre clima, pragas e doenças", explica Chini.
Periquito ampliou a discussão argumentando que é interessante priorizar o uso de IA, no momento presente, para ajudar nas rotinas de trabalho mais simples do agronegócio, como as conferências de contratos e notas fiscais e as leituras de documentos. "Uma estratégia é primeiro focar nos trabalhos mais simples e, somente depois, pensar em máquinas autônomas complexas. Precisamos dar tempo para que as pessoas saibam olhar para a estratégia e pensar de fato em inovação e tecnologia", diz.
Outro ponto suscitado pelos palestrantes foi a necessidade de criar iniciativas que fomentem a adoção tecnológica no setor, de modo a fazer com que os produtores rurais entendam a importância de utilizar os dados para se informarem e tomarem suas decisões.
"Devemos levar tecnologia ao campo de maneira precisa e ética. Precisa, porque precisamos estudar qual tecnologia é a mais adequada para cada caso do agro. Ética, porque ao escolher uma tecnologia, não podemos ignorar o potencial das outras", nota Periquito.