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A filosofia de código aberto vai muito além do software, até nossas vidas

De acordo com seus defensores, o software de código aberto é apenas o primeiro passo em um movimento maior, um que visa tornar o código aberto parte integrante de nosso dia a dia.

O movimento de software livre e aberto tem ocupado um espaço mental considerável entre as organizações empresariais atuais. Mas os defensores da filosofia de código aberto não querem parar no nível de negócios –eles estão encontrando novas maneiras de aplicar as ideias por trás do código aberto a quase todos os aspectos da vida das pessoas.

Basta lembrar de uma conferência Red Hat Summit de 2017 onde os palestrantes enfatizaram três áreas-chave onde o código aberto está afetando não apenas comunidades de desenvolvimento de software, mas também hardware, agricultura e a cultura envolvendo as equipes de software corporativo.

A fonte da inovação, além da empresa

Tim Yeaton, vice-presidente executivo de marketing corporativo da Red Hat, promoviu as comunidades de código aberto como o centro da mudança não apenas em software, mas inovação tecnológica em geral.

"A maioria das inovações está acontecendo em comunidades de código aberto em ascensão", disse ele. "Esse modelo de colaboração foi além do software... é a fonte de inovação para a tecnologia."

Uma dessas áreas de inovação é hardware. Alicia Gibb, diretora executiva da Open Source Hardware Association, com sede em Boulder, Colorado, falou sobre os avanços que foram feitos na comunidade de hardware de código aberto, destacando exemplos como o termociclador OpenPCR, um equipamento capaz de detectar e sequenciar DNA.

Ela também mencionou o Arduíno, uma plataforma eletrônica de código aberto baseada em hardware e software fáceis de usar e destinada a qualquer pessoa que produza projetos interativos, incluindo drones, scanners de impressões digitais e até mesmo um bule de chá robótico que dança. Arduíno também foi a base do OpenCuriosity da NASA, um rover ExoMars de código aberto, e do Safecast Geiger Counter, usado no Japão após o desastre de Fukushima.

"Temos de tudo, desde tratores de código aberto até moda de código aberto", disse Gibb, acrescentando que as possibilidades de combinar internet das coisas e código aberto são muito promissoras.

Caleb Harper, principal investigador e diretor da Open Agriculture Initiative (OpenAG) no MIT Media Lab, mostrou outra aplicação da filosofia de código aberto que está crescendo a partir do mundo do software. Harper apresentou aos membros da audiência a ideia de aplicar as ideias de código aberto à indústria agrícola, a fim de estabilizar a cadeia de abastecimento alimentar mundial.

Harper explicou como a OpenAG está usando o código aberto para criar o que ele chamou de "democracia climática". Ao processar e aplicar dados sobre clima, biologia vegetal, técnicas agrícolas e outros fatores que afetam diretamente o crescimento dos alimentos, condições precisas podem ser replicadas em ambientes controlados para cultivar alimentos não nativos daquela região ou, em alguns casos, frutas antigas que já foram extintas, como um tipo de tomate que não era consumido há 150 anos. Em uma anedota, ele explicou como essa iniciativa permitiu que sírios em um campo de refugiados replicassem as condições necessárias para cultivar alimentos nativos de sua terra natal.

"Não podemos pegar dados e aplicá-los ao que comemos?" Harper perguntou, acrescentando que parte do objetivo da OpenAG é chegar a um ponto onde os dados possam ser enviados ao invés de alimentos.

Os dados que a OpenAG coleta e compartilha também podem ser usados para práticas de crescimento mais eficientes e econômicas que podem, por exemplo, reduzir o consumo de água e aumentar a velocidade de crescimento.

Um profissional de software que participou do show, Tony Heron, disse que nunca pensou muito em aplicar a filosofia de código aberto além do software antes de ouvir as palestras do Red Hat.

"Eu achei as palestras sobre hardware aberto e agricultura aberta sensacionais", disse Heron, que é administrador de sistemas do banco direto canadense Tangerine. "Eu nunca pensei em levar o código aberto além do lado do software... as possibilidades para a humanidade em geral com o que foi documentado foi incrivelmente fantástico.”

Outro participante, Robbert Rijkse, compartilhou este sentimento de que o código aberto tem lugar além do mundo do software. Rijkse, que é líder de serviços técnicos na Tangerine, disse que as organizações deveriam fazer um esforço para aplicar código aberto ao topo de suas pilhas de software, incluindo qualquer coisa na nuvem, bem como além.

"Acho que a coisa que a Red Hat mostrou através de todas as palestras é que o código aberto não deve ser aplicado apenas ao software", disse Rijkse. "Deve ser aplicado a todos os aspectos não apenas de TI, mas [de] nossas vidas."

Código aberto para uma mudança cultural

Além das iniciativas de revolução mundial, as palestras também destacaram como o código aberto pode funcionar como o que Dietmar Fauser, vice-presidente de pesquisa e garantia da qualidade de desenvolvimento da Amadeus, com sede em Madri, chamou de "agente de mudança cultural".

"É reunir equipes e criar energia e conhecimento em comum", disse Fauser.

A importância do código aberto como agente de mudança cultural foi apoiada pelo palestrante Ashesh Badani, vice-presidente de nuvem e OpenShift BU da Red Hat, que disse que os esforços das organizações para avançar em direção à entrega contínua é, em seu íntimo, um problema cultural.

"O verdadeiro problema é cultural", disse ele. "As equipes precisam trabalhar juntas e poder colaborar entre os canais."

Outros palestrantes observaram que o código aberto está tendo um impacto significativo em termos de reduzir o tempo que as equipes de software levam para alcançar as metas de produção. Chris Wright, vice-presidente do escritório de tecnologia da Red Hat, observou que os esforços da Red Hat com a empresa de gestão de computação em nuvem Rackspace ajudaram as equipes de software a realizar fluxos de trabalho mais rápidos, reduzindo tarefas que poderiam levar mais de um mês a apenas dias ou até minutos.

"Como você pode criar um ambiente de produção que vai do zero ao funcional?" Wright perguntou. "Sem o Ágil, pode levar meses. Aqui, estamos olhando para sete a sete minutos e meio."

Código aberto vs. proprietário

O código aberto é o futuro do desenvolvimento de TI e software, disse Wright em uma discussão sobre a relação entre código aberto e DevOps. Wright notou que o método tradicional de trabalhar com fornecedores de software corporativo proprietário pode em breve ficar pelo caminho, à medida que as organizações adotem mais ainda a filosofia de código aberto.

"O futuro da TI é sobretudo sobre colaboração", disse Wright. "É assim que estamos construindo nossa infraestrutura de próxima geração."

Rijkse concordou que ele vê a mentalidade do desenvolvedor se afastando cada vez mais de querer usar software proprietário, citando que o código aberto simplesmente torna mais fácil para sua equipe de software alcançar seus objetivos. Como tal, ele disse que vê um crescimento muito maior no lado de código aberto do que no lado proprietário devido à demanda dos próprios desenvolvedores.

"Nós gostamos de integrar uma porção de produtos... e é muito mais difícil fazer isso com software proprietário", disse Rijkse. "As APIs não são padronizadas. As APIs mudam a cada versão; eles não estão bem documentados. E se você precisar adicionar um recurso, é muito difícil de fazer a menos que você envolva o fornecedor que forneceu essa solução, o que pode sair muito caro."

Heron acrescentou que a popularidade do Red Hat Summit, particularmente entre grandes fornecedores de software, sugere a ele que as organizações estão se afastando das práticas restritas das distribuições de software proprietárias em favor de um modelo de código aberto. De fato, ele afirmou achar que as organizações que não fizerem esta mudança podem estar prejudicando a comunidade de desenvolvimento.

"Se você olhar para o tamanho desta conferência e os grandes participantes do mercado que estão aqui, qualquer um dos velhos argumentos de: 'Você não pode ganhar dinheiro dando nada de graça', foram provados como sendo nonsense", disse Heron. "Você não precisa manter algo proprietário para ganhar dinheiro, e você está apenas prejudicando a inovação fazendo as coisas dessa forma."

Rijkse também acrescentou que as ferramentas de código aberto permitem que sua equipe acelere o desenvolvimento, e o fato de ser de código aberto os poupa de ter que criar ferramentas por conta própria.

"Estamos usando coisas como jQuery para acelerar o desenvolvimento", disse Rijkse. "Por que reinventaríamos a roda? JQuery já está lá... tem todas as características que estamos procurando, então por que iríamos tentar desenvolvê-lo nós mesmos?

Preocupações de segurança persistentes

A segurança ainda é uma questão quando as empresas exploram opções de código aberto, como as fornecidas pela Red Hat. No entanto, usando a colaboração do Rackspace como exemplo, Wright enfatizou que a Red Hat está "simplificando a nuvem privada e permitindo a inovação de código aberto sem sacrificar nada da estabilidade, segurança ou infraestrutura crítica subjacente".

Heron admitiu que há um argumento a ser considerado a respeito da insegurança do código aberto, onde na verdade um indivíduo que quer fazer mal a uma organização poderia, em tese, acessar o código por trás de aplicativos que uma organização está executando. No entanto, ele disse acreditar que esse é um argumento fraco, já que aqueles que querem causar danos poderiam, de fato, explorar vulnerabilidades no código de um provedor proprietário –e uma organização não teria qualquer recurso legal para olhar e abordar esse código e corrigir a vulnerabilidade.

"A verdade é que as pessoas que querem fazer mal vão quebrar o código de qualquer jeito para poder olhar para as coisas proprietárias se quiserem", disse Heron. "E não há nenhuma maneira legal para uma organização fazer a mesma coisa e ver onde esses problemas estão. Nesse aspecto, o código aberto ganha força."

Mas, apesar de qualquer debate sobre o risco ou a falta de risco em código aberto, Marco Bill-Peter, vice-presidente de experiência e engajamento do cliente na Red Hat, encorajou os participantes a considerar os "benefícios de se arriscar dentro do que for razoável", e usar o código aberto para resolver desafios de negócios.

"Se o governo e as instituições financeiras podem fazê-lo, você pode fazê-lo também", disse ele, referindo-se às numerosas intuições governamentais e financeiras destacadas como concorrentes ao Prêmio de Inovação, incluindo Barclays e o governo de Jalisco, uma das 32 entidades federativas do México. "Seja ousado".

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