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A TI rumo à COP30: análise estratégica de IA e big data na descarbonização e ESG no Brasil
Em Belém, a COP30 inaugura um novo paradigma para os CIOs brasileiros. Pesquisa da CNI revela que 66% das indústrias priorizam financiamento verde, mas 43% enfrentam entraves regulatórios e pressão inédita por auditabilidade de dados climáticos. A TI assume o centro das decisões corporativas, liderando descarbonização via IA, blockchain e big data, sob risco de sanções, greenwashing e exclusão de mercados globais.
À medida que Belém se prepara para sediar a COP30 em novembro de 2025, o Brasil assume protagonismo inédito na agenda climática global. Pela primeira vez, uma conferência da ONU sobre mudanças climáticas se realiza na Amazônia, colocando o país no centro da agenda mundial de sustentabilidade, inovação e governança de dados. Este cenário coloca os CIOs brasileiros diante de uma responsabilidade sem precedentes: transformar a TI de um departamento de custos em motor estratégico de conformidade ambiental, social e de gestão.
No entanto, a relevância nacional não se limita à diplomacia ambiental: o verdadeiro campo de disputa estratégica está na transformação digital e na forma como a tecnologia da informação será capaz de sustentar e auditar os compromissos ambientais em escala global. A agenda ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança) evoluiu rapidamente de algo desejável para imperativo de negócios. Segundo pesquisa da CNI, 66% das empresas brasileiras priorizam o acesso a financiamento sustentável, porém 43% consideram os obstáculos regulatórios um entrave para os investimentos. Para esses executivos, a TI deixou de ser suporte passivo para se tornar o motor das estratégias de sustentabilidade, a única área capaz de medir, auditar e otimizar os resultados em tempo real. Esse contexto expõe um novo protagonismo dos CIOs e CTOs: quem não dominar os dados ESG arrisca perder liderança, competitividade e acesso aos principais mercados internacionais.
Pressão sobre os CIOs: dilemas operacionais e regulatórios
O CIO enfrenta hoje desafios duplos e interconectados. De um lado, precisa reduzir o consumo energético da própria infraestrutura de TI, reduzindo custos e emissões corporativas. De outro, deve fornecer os sistemas, as plataformas e os dados que permitam a toda a organização medir, reportar e auditar seus indicadores de sustentabilidade com precisão irrefutável. Essa pressão é real e crescente: empresas que não conseguem apresentar dados ESG auditáveis enfrentam exclusão de cadeias globais, negação de crédito internacional e sanções públicas de investidores.
O dilema energético da tecnologia é concreto e crescente. Os data centers brasileiros já consomem cerca de 1,7% de toda a energia elétrica do país, com expectativa de crescimento anual de 13% até 2030. Simultaneamente, a inteligência artificial (IA) já responde por cerca de 27% do consumo energético dos data centers, número que deve dobrar até 2027, amplificando a pressão sobre custos e indicadores de carbono. O movimento global é claro: grandes empresas da América Latina, incluindo protagonistas brasileiros, já anunciam planos de expansão massiva em nuvens públicas utilizando, por exigência do negócio e de investidores internacionais, infraestrutura alimentada prioritariamente por fontes renováveis.
"TI para o Verde": tecnologias na vanguarda da descarbonização
Paradoxalmente, a IA que amplifica o consumo energético também habilita eficiência sem precedentes. Soluções de AIOps (Artificial Intelligence for IT Operations, aplicações de IA para otimizar as operações de TI) são capazes de reduzir até 20% do consumo energético ajustando automaticamente sistemas de refrigeração, roteamento e balanceamento de cargas computacionais. No Brasil, as nuvens "verdes" e o hardware de alta eficiência tornaram-se critérios obrigatórios em licitações públicas e contratos corporativos. O setor de telecomunicações lidera essa transição com a adoção de processadores ARM e sistemas de armazenamento de baixa potência, reduzindo o PUE (Power Usage Effectiveness, indicador de Eficiência no Uso de Energia) e as emissões operacionais de carbono.
Esse movimento consolida o conceito de "TI para o Verde" (IT for Green): a tecnologia não é mais apenas um setor de suporte, mas a engrenagem central para a geração de valor sustentável. A vantagem brasileira está na capacidade de escalar soluções digitais em um território continental. A combinação de IoT (internet das coisas, sensores e atuadores inteligentes), big data (análise massiva de grandes volumes de dados ambientais) e blockchain (tecnologia de registro distribuído imutável) revoluciona a rastreabilidade produtiva e o combate à fraude ambiental.
A IA também tem papel decisivo em redes elétricas inteligentes (smart grids), capazes de reduzir picos de consumo em até 30% e otimizar a distribuição de energia em grandes concessionárias brasileiras. Na logística, algoritmos de roteirização dinâmica reduziram o consumo de combustível em até 18%, enquanto no setor financeiro as fintechs utilizam IA para auditar portfólios sob critérios ESG, monitorando riscos ambientais e sociais associados a investimentos.
Nas indústrias de ponta, os gêmeos digitais (Digital Twins, simulações virtuais de ativos físicos) representam a próxima fronteira da eficiência e da transparência. Essas simulações permitem prever o impacto ambiental de processos e produtos antes mesmo da execução real, acelerando auditorias regulatórias e aprimorando a governança operacional com precisão incomparável.
Casos práticos brasileiros: da teoria à implementação com resultados
No agronegócio, sensores inteligentes monitoram desde a umidade do solo até a temperatura durante o transporte de alimentos, gerando alertas em tempo real. A plataforma Local DC, selecionada pela ONU para participar da COP30, exemplifica esse avanço, entregando alertas ambientais capazes de prevenir queimadas e desmatamento ilegal. As empresas que adotaram essa solução relatam redução de até 22% em custos operacionais e ganho significativo em credibilidade junto a auditores internacionais.
Essas tecnologias permitem auditar toda a cadeia de valor, assegurando a origem de cada tonelada de carne exportada ou de cada metro cúbico de madeira legalizada, temas centrais nas negociações da COP30. Segundo estudo do GIFE, os sistemas baseados em blockchain e IoT já demonstram ganhos concretos de rastreabilidade, rapidez e redução de fraudes em setores como papel e celulose, mineração e logística de exportação, com impacto direto no acesso a novos mercados e fontes de capital verde.
Benchmark latino-americano: Brasil em perspectiva regional
A disputa regional por liderança em ESG digital revela vantagens e fragilidades. O Brasil lidera ao integrar tecnologia de ponta ao agronegócio, logística e energia; o Chile desponta por matriz renovável e projetos-piloto em hidrogênio verde para data centers, porém avança lentamente em digitalização de cadeias produtivas. O México adota incentivos fiscais para TI Verde e contratos especializados, mas sofre com padronização nacional desigual e infraestrutura fragmentada. A Colômbia aposta em dados abertos e políticas de transparência regulatória, mas enfrenta desafios estruturais para conectar soluções agrícolas e industriais a plataformas digitais integradas de rastreabilidade.
| País |
TI Verde/IA/Big Data |
Governança ESG |
Mercado de carbono |
| Brasil |
Avançada/Escalonável |
Integrativa |
Operacional/B4 Capital |
| Chile |
Renovável/Emergente |
Estruturada |
Em formação |
| México |
Incentivada/Fiscal |
Fragmentada |
Baixa padronização |
| Colômbia |
Transparente/Social |
Políticas abertas |
Agro em expansão |
O Brasil distingue-se não apenas pela inovação tecnológica, mas pela capacidade de integrar múltiplos atores — governo, startups, setor privado e universidades — em um ecossistema colaborativo para ESG digital. Contudo, essa vantagem é frágil se o país não acelerar a padronização de dados, ampliar governança integrada e fortalecer parcerias internacionais para garantir competitividade além de 2026.
Tendências para 2026-2027: antecipar ou ser superado
Nos próximos anos, a regulação ambiental será mais dura, demandando a integração total de blockchain, IA e APIs entre plataformas de auditoria, ERPs e bancos de dados públicos. Os CIOs terão de antecipar demandas por interoperabilidade com os ecossistemas globais e preparar squads técnicos dedicados a ESG, aumentando investimentos em capacitação e transformação digital contínua.
A automação de processos ESG, o reporting contínuo via IA, a segurança de dados ambientais e a prevenção de fraudes emergem como prioridades técnicas. Novas regulações ambientais e exigências de auditoria digital vindas da União Europeia e dos EUA já sinalizadas para 2026-2027 devem intensificar a demanda por soluções integradas e pela expertise em governança de dados. Espera-se, ainda, que finanças verdes, métricas avançadas e parcerias com startups de inovação climática se tornem elementos rotineiros na competitividade do setor de TI a partir de 2027.
O Brasil, ao sediar a COP30, consolida sua posição como referência para inovação ESG na América Latina, contanto que antecipe essas tendências e continue investindo em infraestrutura, talentos e colaboração multinacional.