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Cultura data driven e os desafios de ampliar a competitividade empresarial

Apesar dos benefícios da cultura data driven serem claros, muitas empresas ainda esbarram em obstáculos significativos. Por isso, é indispensável investir em plataformas que garantam a coleta, a integração e a análise de dados em escala, mas também em capacitação contínua das equipes.

No atual contexto empresarial, o uso de dados não pode ser tratado apenas como questão periférica ou restrita a áreas técnicas, pois está diretamente ligado ao desenvolvimento de estratégias e condução cotidiana das operações. Dessa forma, quando as organizações se apoiam apenas em percepções individuais ou em experiências passadas, tornam-se menos capazes de sustentar a competitividade em comparação com aquelas que estruturam seus processos a partir de informações verificáveis e mensuráveis. Em consequência, a incorporação de dados à gestão não deve ser entendida como escolha eventual, mas como processo permanente de adaptação às dinâmicas de mercado e às exigências de eficiência.

Ainda que esse entendimento esteja presente em grande parte dos discursos corporativos, a realidade mostra que existe uma distância significativa entre o que se declara e o que se pratica. De acordo com a pesquisa conduzida pelo IT Forum Series, somente cerca de 11% das empresas afirmam estar, de fato, orientadas por dados. Esse número indica que a transição para uma cultura baseada em informações concretas envolve desafios de ordem estrutural, tecnológica e cultural que não podem ser negligenciados.

Para que essa mudança se concretize, é necessário que se estabeleça uma estratégia abrangente que determine de maneira clara como a companhia irá coletar, organizar, proteger, analisar e aplicar seus dados em benefício direto das decisões de negócio.

Nesse sentido, a construção de uma cultura orientada por dados depende da definição de fontes confiáveis, da implementação de uma governança adequada, do desenvolvimento de arquiteturas tecnológicas consistentes e da criação de indicadores e modelos analíticos que sustentem escolhas organizacionais. Assim, torna-se possível reduzir a dependência de opiniões isoladas e criar condições para que cada decisão represente um desdobramento lógico das informações disponíveis.

Benefícios e desafios relacionados à cultura data driven

Quando esse movimento avança, os efeitos podem ser observados em diferentes frentes. As decisões passam a ser tomadas com maior rapidez e respaldo, riscos e oportunidades são identificados em estágios mais precoces e os processos ganham capacidade de aperfeiçoamento contínuo.

Além disso, o alinhamento entre áreas se fortalece, uma vez que a utilização de métricas comuns e transparentes favorece a coordenação de esforços e reduz a necessidade de discussões sustentadas em percepções subjetivas. Com isso, libera-se espaço para que equipes direcionem energia à execução de iniciativas estratégicas com maior consistência.

À medida que as organizações internalizam essa lógica, os dados deixam de ser percebidos como responsabilidade exclusiva das áreas de tecnologia e passam a ocupar posição de recurso essencial em toda a estrutura de gestão. Nesse ponto, a integração entre sistemas, processos e pessoas estabelece um ciclo em que as informações reforçam a confiança na gestão, enquanto a gestão, por sua vez, amplia a legitimidade das informações.

Por outro lado, empresas que não conseguem estruturar esse processo acabam acumulando relatórios pouco utilizados e restringem o uso de dados à simples validação de decisões já tomadas, o que limita o alcance das iniciativas de transformação.

Apesar dos benefícios da cultura data driven serem claros, muitas empresas ainda esbarram em obstáculos significativos. Em primeiro lugar, a ausência de envolvimento consistente da alta liderança compromete a legitimidade dos programas de transformação. Em seguida, a dispersão de dados e a baixa qualidade das informações reduzem a confiança dos usuários e enfraquecem análises.

Além disso, barreiras culturais, expressas na resistência à transparência e na dificuldade em adotar indicadores objetivos de desempenho, dificultam a consolidação de práticas baseadas em dados. Por fim, a escassez de competências analíticas internas impede que as empresas explorem de maneira plena o potencial de suas informações.

Como começar a investir em cultura data driven?

Diante desse conjunto de entraves, torna-se indispensável investir em plataformas que garantam a coleta, a integração e a análise de dados em escala, mas também em processos de capacitação contínua das equipes e na contratação de especialistas capazes de desenhar arquiteturas adequadas e desenvolver soluções analíticas.

Da mesma maneira, o estabelecimento de mecanismos de governança, padrões de qualidade e fluxos claros constitui condição fundamental para sustentar essa transformação. Embora tais medidas não gerem resultados imediatos, elas criam a base necessária para que a mudança cultural se torne efetiva e duradoura.

Considerando essas dimensões, percebe-se que a incorporação de dados ao processo decisório não é algo que se consolide em ciclos curtos de gestão. Ao contrário, trata-se de movimento cumulativo que exige continuidade e disciplina. É verdade que já existem metodologias estruturadas para apoiar esse percurso, mas sua aplicação depende de clareza de objetivos e de disposição para sustentar iniciativas de longo prazo.

Nesse sentido, a utilização sistemática de dados não deve mais ser vista como diferencial, mas como requisito básico de competitividade. Com a evolução da inteligência artificial, a urgência se intensifica, pois a construção de modelos confiáveis, a automatização de análises e a personalização de experiências dependem de informações organizadas, processos consistentes e equipes preparadas. Assim, as organizações que não se moverem nessa direção correm o risco de perder relevância em mercados nos quais a capacidade de aprender continuamente com os dados e transformá-los em ação concreta tende a definir os rumos da competição.

Sobre o autor: Alex Aparecido da Silva é Head Data Analytics and Integration da Everymind, empresa de implementações Salesforce. Mestre em Gestão de Negócios pela FIA Business School, com mais de 20 anos de experiência liderando iniciativas de Dados, Analytics e Transformação Digital. Alex tem expertise no desenho e entrega de soluções escaláveis de dados, com forte governança e foco em resultados de negócio, utilizando tecnologias como Tableau, Mulesoft, AWS, GCP, Azure, entre outras, aliadas a arquiteturas modernas e analytics avançado. Atualmente, lidera projetos estratégicos de dados e IA para grandes empresas dos setores financeiro, varejo, saúde, telecomunicações, entre outros.

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