goodluz - Fotolia

Pix automático e por aproximação: A revolução silenciosa que transforma o mercado financeiro e de TI

Em quatro anos, o Pix movimentou R$ 27,3 trilhões. Agora, duas funcionalidades redefinem pagamentos no Brasil: o Pix Automático programado para junho de 2025 e o Pix por Aproximação que estreia nesta sexta-feira, 28 de fevereiro. Conheça os impactos para empresas e consumidores.

Desde seu lançamento em 2020, o Pix transformou 76,4% da população brasileira em usuários ativos, superando cartões e dinheiro físico como meio de pagamento preferencial. Em menos de cinco anos, o sistema movimentou R$ 27,3 trilhões, consolidando-se como a maior revolução financeira recente do país. Agora, o ecossistema Pix avança com duas novas modalidades: o Pix Automático, previsto para 16 de junho de 2025, e o Pix por Aproximação, que começa a funcionar oficialmente nesta sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025. A primeira modalidade automatizará pagamentos recorrentes como contas de luz e assinaturas de streaming, enquanto a segunda permitirá transações presenciais via tecnologia NFC, dispensando até a abertura de aplicativos bancários.

O Banco Central do Brasil (BCB) projetou essas funcionalidades com objetivos estratégicos claros: reduzir custos operacionais em até 60% para empresas, diminuir a inadimplência e consolidar o Brasil como referência global em pagamentos digitais. Para garantir a implementação adequada, o BCB estabeleceu um cronograma rigoroso, com multas diárias de até R$ 50 mil para instituições que não cumprirem os prazos de homologação e adaptação.

O impacto nas empresas financeiras: redefinição de modelos

O Pix Automático representa uma alternativa ao débito em conta tradicional, permitindo que empresas de qualquer porte — de escolas e condomínios a provedores de streaming — realizem cobranças recorrentes sem necessidade de convênios bilaterais com bancos. Essa democratização do acesso a pagamentos programados deve beneficiar especialmente pequenos negócios, que antes não conseguiam oferecer débito automático devido às exigências técnicas e financeiras. Projeções da Ebanx indicam que apenas o setor de e-Commerce capturará US$ 2 bilhões do mercado de cartões de crédito no primeiro ano de implementação do Pix Automático, evidenciando o potencial disruptivo da modalidade.

Para bancos tradicionais, a nova modalidade representa tanto desafio quanto oportunidade. Instituições como Santander e Itaú já se antecipam oferecendo funcionalidades de agendamento recorrente via Pix, enquanto fintechs exploram modelos de negócio baseados em cashback e programas de fidelidade para compensar a potencial perda de receita com tarifas. Analistas do setor preveem uma reconfiguração do mercado, com maior ênfase em serviços de valor agregado e menos dependência de taxas transacionais.

Adaptação técnica e regulatória

A implementação do Pix Automático exige adaptações significativas nos sistemas legados das instituições financeiras. A Resolução BCB nº 429 estabelece que todas as instituições participantes do Pix devem solicitar autorização operacional até 2026, com capital mínimo de R$ 5 milhões — um aumento substancial em relação aos requisitos anteriores. Paralelamente, a migração para APIs padronizadas representa um desafio técnico para 43% das fintechs, segundo levantamento da ANBIMA.

A segurança também ganhou destaque nas novas regulamentações. O BCB implementará rastreamento em tempo real de transações para conter fraudes, que devem causar prejuízos estimados em R$ 11 bilhões até 2028, conforme estudo da PwC. A Resolução BCB nº 403/2024 introduziu mecanismos adicionais de proteção, como a verificação obrigatória de marcações de fraude no Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT) a cada seis meses e a possibilidade de rejeição de registros de chaves para usuários com marcações ativas.

O impacto nas empresas de TI: infraestrutura e segurança

O Pix por Aproximação cria uma nova frente de oportunidades para empresas de tecnologia. A funcionalidade exige dispositivos compatíveis com Near Field Communication (NFC), tecnologia presente em 78% dos smartphones brasileiros em 2025. Empresas como Cielo e PicPay já integram a solução em suas maquininhas e aplicativos, enquanto desenvolvedores trabalham na criação de SDKs (Software Development Kits) para facilitar a comunicação entre sistemas bancários e carteiras digitais como Google Pay, Apple Pay e Samsung Pay.

Para o Pix Automático, startups de tecnologia financeira concentram esforços no desenvolvimento de plataformas de gestão de cobranças recorrentes. Estas soluções incluem funcionalidades essenciais como limite de valor ajustável por transação, notificações personalizáveis e opção de cancelamento instantâneo pelo usuário. A empresa Zoop, por exemplo, lançou uma API específica para Pix Automático que promete reduzir em 40% o tempo de integração para empresas que desejam oferecer a modalidade.

Proteção de dados como prioridade absoluta

A Resolução BCB nº 402/2024 elevou significativamente os requisitos de segurança para transações via Pix. Instituições financeiras agora são obrigadas a implementar autenticação biométrica e tokenização dinâmica para operações acima de R$ 500, especialmente relevante para o Pix por Aproximação. Empresas de cibersegurança desenvolvem soluções de análise comportamental capazes de identificar padrões suspeitos em menos de 50 milissegundos, criando um mercado que deve movimentar R$ 2,3 bilhões apenas em 2025.

A Instrução Normativa BCB n° 491/2024 também estabeleceu regras para o cadastramento de dispositivos de acesso para iniciação de transações Pix. O valor máximo permitido para transações a partir de equipamentos não cadastrados foi limitado a R$ 200 por operação, com teto diário de R$ 1.000, medida que visa mitigar riscos de fraudes em caso de roubo ou perda de dispositivos.

Desafios e oportunidades

Padronização técnica e interoperabilidade

Um dos principais desafios para a implementação plena do Pix Automático e por Aproximação é a falta de uniformidade nas APIs de instituições financeiras, o que dificulta a integração entre sistemas. Para resolver essa questão, o BCB introduziu a Jornada Sem Redirecionamento (JSR), um modelo que padroniza interfaces para iniciação de pagamentos via Open Finance. A medida beneficiará as 320 fintechs atualmente em processo de homologação para oferecer serviços relacionados ao Pix.

As Resoluções BCB n° 406/2024 e n° 407/2024 regulamentam essa nova jornada, estabelecendo requisitos específicos para instituições que desejam atuar como iniciadoras de transação de pagamento (ITP) na modalidade sem redirecionamento. Entre as exigências está um capital social integralizado e patrimônio líquido mínimo de R$ 3 milhões — R$ 2 milhões adicionais ao valor já exigido para ITPs convencionais.

Educação financeira e inclusão digital

Apesar da ampla adoção do Pix básico, pesquisas do BCB indicam que apenas 29% dos usuários dominam funcionalidades avançadas do sistema. Para o Pix Automático e por Aproximação, essa lacuna de conhecimento representa um desafio significativo. Instituições financeiras e associações setoriais planejam campanhas educativas focadas em microempreendedores — público que responde por 40% das transações recorrentes no país.

O potencial de inclusão financeira também é notável. Dados da CNN Brasil mostram que 60% dos brasileiros de baixa renda não possuem cartão de crédito, mas a maioria tem acesso a smartphones. O Pix por Aproximação pode, portanto, democratizar pagamentos sem contato para uma parcela significativa da população que hoje depende exclusivamente de dinheiro físico.

O futuro do Pix

O BCB já trabalha em funcionalidades adicionais para o ecossistema Pix. Até 2026, está previsto o lançamento do Pix Internacional, que permitirá transferências instantâneas para outros países, inicialmente na América Latina. Outra inovação em desenvolvimento é o Pix Garantido, modalidade que viabilizará parcelamentos sem intermediários, potencialmente redefinindo o mercado de crédito ao consumidor.

A integração com o Open Finance também avança rapidamente, facilitando a criação de "superapps" financeiros que consolidam serviços bancários, investimentos e pagamentos em uma única interface. Especialistas projetam que o Pix por Aproximação estará disponível em 85% das maquininhas de cartão até o final de 2026, enquanto o Pix Automático deve capturar 30% do mercado de débitos automáticos até 2027.

Como funciona o Pix por Aproximação

Para utilizar o Pix por Aproximação a partir desta sexta-feira (28/02), os usuários precisarão vincular suas contas bancárias a carteiras digitais como Google Pay, Apple Pay ou Samsung Pay. O processo é similar ao já realizado para cartões de crédito e débito: o cliente será redirecionado para o aplicativo de sua instituição financeira para confirmar a autorização.

No momento do pagamento, basta selecionar a opção Pix na maquininha, aproximar o smartphone do terminal, revisar as informações da transação e confirmar. O valor máximo por operação será de R$ 500, podendo ser personalizado pelo usuário. O BCB ressalta que a disponibilidade da função é facultativa para carteiras digitais, bancos e provedores de maquininhas, sendo necessário consultar a instituição financeira para verificar se o serviço está disponível.

Saiba mais sobre Blockchain