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Os funcionários usam o GenAI, mas as empresas não têm controle sobre a tecnologia
Pesquisa da Data Hackers aponta rotatividade, insatisfação e falta de diversidade como entraves à maturidade em dados e IA no Brasil. A falta de políticas estruturadas e de expertise técnica está entre os principais obstáculos à adoção segura da IA generativa nas empresas.
A quinta edição da pesquisa State of Data Brazil, realizada pelo Data Hackers, com apoio da Bain & Company, aponta que 82% das empresas brasileiras já utilizam inteligência artificial generativa. No entanto, 57% dos profissionais da área afirmam usar essas ferramentas em versões gratuitas e fora do controle corporativo, evidenciando o desafio da governança tecnológica. Os dados foram apresentados por Monique Femme, diretora executiva do Data Hackers, durante o TDC Summit São Paulo, em palestra voltada a executivos de tecnologia e inovação.
Monique destacou que a falta de políticas estruturadas e de expertise técnica está entre os principais obstáculos à adoção segura da IA generativa nas empresas. “Todo mundo quer aplicar a IA generativa, mas a maioria ainda não sabe como justificar o investimento nem como garantir segurança nesse uso”, afirmou. A pesquisa também mostra que 63% das empresas adotam modelos descentralizados de uso da tecnologia, o que agrava os riscos e dificulta a padronização.
A rotatividade no setor é outro sinal de alerta. Segundo o estudo, metade dos profissionais de dados entrevistados fez ao menos uma entrevista de emprego nos últimos seis meses. Apesar de um aumento médio de 11% nos salários em 2024, a taxa de retenção dos profissionais caiu 60% em relação a anos anteriores. “Existe um paradoxo entre pagar bem e manter a satisfação das equipes. Um terço dos profissionais está insatisfeito”, explicou Monique.
Desafios de inclusão e barreiras estruturais
A pesquisa também mostra uma estagnação ou recuo nos indicadores de diversidade. Em 2024, apenas 22% dos respondentes se identificaram como mulheres, número inferior ao registrado em 2022. A proporção de profissionais pretos é de 6,4% e de pessoas com deficiência, 2,7%, apesar de esses grupos representarem parcelas significativamente maiores da população brasileira. “A diversidade é uma ação individual com impacto coletivo. Esperar que apenas as empresas liderem esse movimento é um erro”, afirmou Monique.
A análise sobre diversidade vai além da presença nos times: 60% das mulheres ouvidas relataram que suas ideias são frequentemente ignoradas em ambientes profissionais; 61,2% afirmaram enfrentar barreiras na velocidade de progressão de carreira; e 56% relataram falta de oportunidades de promoção. A percepção contrasta com a de grupos masculinos, que raramente apontam esses fatores como limitantes.
Outro ponto citado foi a dificuldade de acesso enfrentada por profissionais com deficiência. Monique compartilhou o caso de uma cientista de dados cega contratada por uma grande empresa, que enfrentou como primeira barreira o fato de o contrato ter sido disponibilizado em imagem, inacessível para softwares leitores de tela. “As plataformas ainda não estão preparadas para a inclusão plena”, destacou.
IA generativa e novos dilemas organizacionais
O uso crescente de IA generativa impulsionou mudanças no perfil e nas expectativas dos profissionais. Ainda assim, a ausência de clareza sobre políticas de uso e a maturidade analítica limitada seguem como entraves à adoção estratégica. Governança, segurança e capacitação foram apontados como prioridades para as empresas que buscam transformar o potencial técnico em valor de negócio.
A pesquisa revelou também um deslocamento nas preferências quanto ao modelo de trabalho. Em 2023, o regime híbrido liderava. Em 2024, a maioria dos profissionais passou a preferir o trabalho 100% remoto, refletindo mudanças no estilo de vida e expectativas pessoais após a pandemia. “A forma como esses profissionais querem se relacionar com o trabalho mudou. Isso impacta diretamente na retenção e cultura organizacional”, afirmou Monique.
Encerrando a apresentação, Monique destacou a importância da pesquisa como instrumento para tomada de decisão. “Não se trata só de números. Esses dados são reflexo de pessoas, de histórias e de uma transformação cultural que ainda está em curso. Se queremos moldar o futuro dos dados e da IA, precisamos entender o presente com profundidade”, concluiu.