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Como a IA está afetando a rotina dos próprios profissionais de tecnologia?
O ritmo da transformação impõe uma corrida por atualização constante. Sem tempo, sem contexto e sem estratégia, a IA gera frustração em vez de produtividade tanto nas lideranças quanto nas equipes.
A inteligência artificial está remodelando o mercado de trabalho em velocidade recorde: automatiza processos, otimiza tarefas e já toma decisões com mínima ou nenhuma intervenção humana. Presente em praticamente todos os setores da economia, ela também tem mudado profundamente o dia a dia dos profissionais que a desenvolvem, como engenheiros de software, cientistas de dados e líderes de produto. Mas como esses profissionais, protagonistas dessa revolução, estão lidando com suas próprias rotinas em constante transformação?
Se antes os desenvolvedores criavam sistemas do zero, agora atuam como arquitetos, validadores e otimizadores, enquanto a IA assume o trabalho "braçal" ou mais operacional. Essa transição exige mais do que domínio técnico: requer habilidades interpessoais, adaptabilidade e visão sistêmica. Afinal, colaborar com máquinas inteligentes se tornou uma parte essencial do ofício.
O ritmo dessa transformação impõe uma corrida por atualização constante. Segundo a pesquisa “Navigating AI Anxiety: ANZ Organizations in 2025”, 59% dos profissionais de TIC relatam estresse frequente ao tentar acompanhar os avanços da IA. O cenário é de sobrecarga, incerteza e esgotamento.
Essa corrida por atualização criou uma realidade instável e desgastante: o que é essencial hoje, pode ser descartado amanhã. Nesse cenário, o lifelong learning – que deveria ser uma jornada enriquecedora – tem se tornado um ciclo superficial. Falta tempo, estrutura e apoio para que os profissionais realmente compreendam e apliquem as novas ferramentas. Aprende-se o necessário para “não ficar para trás”, e não para inovar com profundidade.
Como reflexo dessa pressão, ainda segundo a pesquisa, mais de um terço dos profissionais se mostra hesitante em adotar novas tecnologias por completo. Sem tempo, sem contexto e sem estratégia, a IA gera frustração em vez de produtividade tanto nas lideranças quanto nas equipes.
Paralelamente, as expectativas sobre os times de TI continuam crescendo. Espera-se que desenvolvam soluções para tornar outras áreas mais produtivas, mesmo enquanto lutam para acompanhar a transformação do próprio trabalho. Resultado: um ambiente de hiperconectividade, pressão constante e esgotamento. Segundo levantamento da Telavita, 42,5% dos profissionais de TI já relataram sintomas de burnout.
É evidente que os principais agentes da transformação digital não estão sendo devidamente valorizados. Se esse cenário continuar, veremos muitas empresas que se dizem líderes em inovação perderem a competitividade por negligenciar o bem-estar e o desenvolvimento daqueles que constroem esse mercado.
Nesse contexto, a própria IA pode ser uma aliada para aliviar a sobrecarga e preservar a saúde mental dos profissionais de tecnologia. Um exemplo são os assistentes de reunião com IA, que transcrevem, resumem e destacam automaticamente os principais pontos das conversas, poupando tempo com anotações manuais e permitindo que os trabalhadores foquem no conteúdo e tomada de decisão. Esse tipo de automação reduz o acúmulo de tarefas operacionais e contribui para um dia a dia menos exaustivo, ajudando a diminuir os sintomas de burnout e criar rotinas de trabalho mais sustentáveis.
Os dilemas enfrentados pelos profissionais de tecnologia são urgentes e merecem mais do que empatia: precisam de ação. O maior desafio da nova era digital não é apenas implementar novas tecnologias, mas garantir que quem as cria não seja deixado para trás. Apoiar o bem-estar, a capacitação contínua e a adoção consciente da IA será essencial para sustentar a verdadeira inovação.
Sobre o autor: Rodrigo Stoqui é Country Manager da tl;dv, plataforma de inteligência para reuniões impulsionada por IA. Rodrigo é um profissional com mais de 17 anos de experiência no desenvolvimento e expansão de negócios na região da América Latina (especialmente), mas também na gestão de desenvolvimento de negócios globais. Seu expertise inclui o estabelecimento de operações locais, a compreensão de nuances culturais e a implementação de estratégias que repercutem em diversos mercados.
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