
Há alta adesão à IA no Brasil, mais falta estratégia nas empresas
Com 93% dos profissionais brasileiros acreditando que a inteligência artificial terá impacto elevado ou transformacional em suas carreiras nos próximos cinco anos, o desafio agora é estruturar essa expectativa.
Embora o Brasil esteja entre os líderes globais na adoção individual de ferramentas de inteligência artificial (IA), a ausência de diretrizes claras dentro das organizações ameaça limitar os benefícios dessa transformação.
Segundo relatório da Thomson Reuters sobre o futuro dos profissionais, analisado por Andréa Ziravello Elias, Country Leader da empresa no Brasil, 93% dos profissionais brasileiros já experimentaram soluções de IA — um índice bem acima da média global de 81%. No entanto, apenas 45% usam essas tecnologias de forma regular, e 67% afirmam que suas empresas operam sem uma estratégia definida para IA.
Essa falta de coordenação tem consequências diretas sobre os resultados. O estudo aponta que empresas com estratégias claras para a tecnologia têm 3,5 vezes mais chances de colher benefícios concretos e são duas vezes mais propensas a registrar crescimento em receita. Além disso, o uso de ferramentas genéricas e sem suporte adequado pode comprometer a segurança dos dados e reduzir a eficácia dos processos.
A pesquisa destaca ainda que a geração millennial lidera a adesão à IA, com índices quase duas vezes superiores aos da geração Baby Boomer. O Brasil figura, ao lado da Ásia, entre os principais early adopters da tecnologia, o que reforça o papel da IA como aceleradora de talentos — mas exige das empresas uma mudança de mentalidade.
De acordo com Bruno Nunes, especialista em tech e CEO da Base39, apesar dos avanços, o país ainda sofre com a escassez de profissionais qualificados. “O uso eficiente da tecnologia depende de pessoas capazes de desenvolver, aplicar e gerenciar essas soluções. Sem essa mão de obra especializada, o potencial disruptivo dos algoritmos inteligentes fica limitado — e corremos o risco de depender exclusivamente de soluções importadas”, afirma.
Com 93% dos profissionais brasileiros acreditando que a inteligência artificial terá impacto elevado ou transformacional em suas carreiras nos próximos cinco anos, o desafio agora é estruturar essa expectativa.
Para Nunes, o futuro do trabalho já começou — e ele pertence a quem souber combinar preparo técnico, visão estratégica e responsabilidade ética. “Para que o Brasil realmente avance no cenário da IA generativa, as empresas precisam adotar uma abordagem mais centrada no problema. Em vez de adicionar funcionalidades de IA como um adereço, é crucial identificar desafios específicos que a tecnologia pode resolver. Isso não só maximiza o retorno sobre o investimento, mas também contribui para o desenvolvimento de soluções inovadoras que podem posicionar o país como líder tecnológico”, finaliza.