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O papel estratégico da observabilidade nas organizações
A observabilidade separa uma gestão reativa de uma governança proativa. Uma empresa que observa é uma empresa que antecipa com tecnologia, estratégia e inteligência do negócio para garantir performance, prevenir riscos e sustentar a inovação nas empresas.
O cenário empresarial atual é marcado pelo crescimento exponencial do volume de dados, e a capacidade computacional trazida pela cloud, aprendizado automático (machine learning) e IA generativa possibilita tratá-los e convertê-los em análises em tempo real, análises preditivas e insights de negócio, além de permitir a automação a partir de eventos observados.
Em operações complexas que utilizam múltiplos sistemas conectados, o desafio deixou de ser apenas monitorar o que ocorre, e sim garantir a compreensão de como estão se desempenhando.
É nesse contexto que a observabilidade se destaca: não como uma extensão do monitoramento, mas como uma competência impreterível para a gestão moderna.
Mais do que uma função técnica, esse tipo de análise contínua e integrada é uma resposta estruturada à crescente interdependência entre sistemas, operações e decisões estratégicas. Em um ambiente digitalizado, as lideranças precisam ter acesso a insights em tempo real. Nesse sentido, a observabilidade se consolida como ferramenta essencial para garantir controle, agilidade e resiliência nas organizações.
Da performance técnica à inteligência do negócio
É comum que empresas associem observabilidade a dashboards de performance ou indicadores de disponibilidade. No entanto, esse é apenas o primeiro degrau. A abordagem eficaz ocorre quando os dados deixam de ser apenas insumos técnicos e passam a refletir o comportamento real dos processos de negócio, com variáveis humanas, interações entre sistemas e riscos operacionais, a priori, invisíveis.
Para exemplificar, imagine uma companhia com múltiplos canais de venda – vendedores, e-commerce, lojas físicas e assinaturas. Em tese, o pedido é feito, faturado e entregue. E se houver uma falha na integração entre o sistema de vendedores e o gateway logístico? O sistema pode parecer estável, mas o negócio está parado. A observabilidade entra nesse ponto cego, conectando as “pontas soltas” da operação e revelando falhas sistêmicas que o simples monitoramento não apontaria.
Mais que o controle operacional, esse recurso analítico atua como uma ferramenta de diagnóstico contínuo da empresa, uma forma de entender se a engrenagem está funcionando em harmonia entre TI e negócio. Não se trata mais de saber se o sistema está online, mas se ele está entregando valor ao processo.
Uma agenda estratégica, não mais opcional
A maturidade do mercado ainda é baixa quando falamos em observabilidade. Muitas organizações permanecem focadas em painéis técnicos, perdendo a oportunidade de elevar a prática a um patamar estratégico. Tratar a visibilidade como aliada estratégica não é custo, é investimento em resiliência, agilidade e conformidade.
Em setores regulados, como o de energia, os riscos de não ter visibilidade de processos são concretos e podem ocasionar gastos elevados. Uma falha de integração entre sistemas que gerenciam ordens de serviço e aqueles que atualizam técnicos em campo pode, por exemplo, resultar no não cumprimento de SLA regulatório resultando em sanções. Quando aplicada com inteligência, ela funciona como radar: identifica ruídos antes que virem crises.
É possível implementar observabilidade de forma gradual, iniciando por processos críticos, expandindo por demanda e amadurecendo com base em tecnologia cloud e modelos de pagamento por uso. Isso democratiza o acesso e acelera a curva de aprendizado. Ferramentas baseadas em IA e machine learning, por sua vez, ampliam a capacidade analítica e oferecem diagnósticos mais precisos do que a leitura humana, criando cenários preditivos e recomendando ações antes que os problemas se manifestem.
De diferencial a pré-requisito
A pergunta que se impõe à liderança hoje não é “precisamos de observabilidade?”, mas sim “estamos preparados para operar sem ela?”. A resposta, na maioria dos casos, é não. Ela representa um novo paradigma de gestão empresarial. Permite que executivos enxerguem além dos relatórios de desempenho e tomem decisões sustentadas por evidências dinâmicas, em um ambiente cada vez mais interdependente e volátil.
Ela é o que separa uma gestão reativa de uma governança proativa. Uma empresa que monitora é uma empresa que corre atrás. Uma empresa que observa é uma empresa que antecipa.
Em um cenário onde velocidade, conformidade e excelência operacional são fatores de sobrevivência, antecipar é mais do que estratégia: é imperativo.
Sobre o autor: Fabrício Cordeiro é diretor Latam de Tecnologia e Negócios SAP da SoftwareOne, provedora de soluções de ponta-a-ponta para softwares e tecnologia de nuvem. Durante 14 anos, ele foi sócio e liderou projetos de SAP na ITST. Atualmente na SoftwareONE, após fusão com ITST, Cordeiro ajuda a identificar melhorias nas estruturas de TI das empresas.