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BMC Day 2025 revela maturidade tecnológica do mercado brasileiro em automação empresarial

Dados do evento revelam: 50% das transações PIX nacionais transitam por bancos com arquitetura mainframe, contradizendo a narrativa de "morte" da plataforma. O setor financeiro brasileiro alcança maturidade equivalente a benchmarks mundiais.

Durante o BMC Day São Paulo 2025, um evento que tem como objetivo debater a forma como a automação e os dados inteligentes impulsionam resultados e inovação, executivos da BMC apresentaram dados que reposicionam o Brasil no cenário global de automação empresarial. O país emergiu como um laboratório regional para a integração entre mainframes legacy e tecnologias emergentes como inteligência artificial e cloud computing, desafiando premissas sobre obsolescência tecnológica.

Brasil lidera adoção regional de automação

Celso Rodrigues, vice-presidente da BMC para América Latina, confirmou em entrevista exclusiva que "o Brasil é nossa principal região, o principal país na América Latina" para soluções de orquestração, e que o país tem apresentado crescimento significativo na demanda por automação, impulsionado pela complexidade crescente dos ambientes tecnológicos empresariais.

"Um grande banco brasileiro procurou nossa equipe com uma meta específica: tornar-se o maior cliente mundial de automação. Atualmente ocupam a nona posição no ranking global", declarou Rodrigues, destacando a ambição competitiva do setor financeiro nacional.

A estratégia de expansão da BMC no país foca em dois eixos principais: fazer com que seus grandes clientes conheçam e tirem mais valor do que eles já têm, e fazer com que uma grande massa de novos clientes conheça e passe a ser usuários do controle

Mainframes processam metade das transações PIX

Contrariando narrativas de obsolescência, dados apresentados durante o evento mostram que 75% do volume crítico de negócios mundiais são processados em mainframes. No contexto brasileiro, 50% das transações PIX transitam por bancos que utilizam mainframe em sua arquitetura de processamento.

Priya Doty, VP de Solution Marketing Mainframe da BMC, apresentou o roadmap de modernização baseado em uma pesquisa anual realizada com mil clientes ao redor do mundo. As quatro prioridades principais identificadas foram:

  • Segurança e compliance: Com IA integrada para detecção mais rápida de problemas
  • Gestão de custos: Utilizando analytics e IA para otimização preditiva
  • AIOps: Combinando machine learning e IA generativa para operações
  • Capacitação profissional: Soluções de IA generativa para acelerar o onboarding

Segundo Rodrigues, a maior parte dos problemas empresariais resulta de falha humana, não técnica, e a IA integrada mitiga riscos operacionais. "Ela atua como um anjo da guarda para profissionais mainframe, explica.

Desafios de liderança em transformação digital

April Hickel, VP Product Strategy Control-M, identificou durante o painel executivo a "tensão fundamental entre necessidade de inovar e manter sistemas críticos funcionando" como o principal desafio de CIOs globalmente.

"Vocês precisam manter sistemas críticos rodando perfeitamente - seja core bancário, voos pontuais ou pontos de venda - mas também há necessidade urgente de reinvenção com cloud, multi-cloud e IA", disse ela. "Uma das habilidades mais valiosas que podemos desenvolver é adaptabilidade - capacidade de responder a mudanças, liderar equipes através de ambiguidade e ajudar times a se adaptarem rapidamente".

Doty complementou abordando a criatividade como diferencial competitivo: "A IA generativa está ampliando a criatividade. Você consegue provar qualquer conceito rapidamente. O desafio é usar Gen AI sem nos tornarmos iguais a todos os outros".

Conselhos para mulheres em tecnologia

Durante segmento específico sobre diversidade, ambas executivas ofereceram orientações práticas. "Infelizmente, como mulheres, sempre temos que provar por que estamos na sala", observou Doty, enfatizando importância de relacionamentos sobre perfeccionismo técnico.

Hickel foi mais direta sobre visibilidade profissional: "Mulheres tendem a trabalhar arduamente assumindo que isso é suficiente e visível. Não é suficiente. Vocês precisam tornar seu valor audível para as pessoas ao redor - empacotar e entregar: 'aqui está o sucesso que tivemos, aqui está o resultado que entreguei'".

Case Banco do Brasil: DataOps em números detalhados

O projeto piloto implementado pelo Banco do Brasil oferece métricas verificáveis sobre retorno de automação em larga escala. Sader Charne, account manager da BMC, e Flavio Studart Wernik, gerente de soluções do Banco do Brasil, apresentaram a cronologia completa do processo.

O Banco do Brasil identificou 150 servidores descentralizados executando rotinas críticas sem visibilidade central, em uma diversidade tecnológica que incluía MySQL, Oracle, PostgreSQL, aplicações PHP e até ASP2 em produção. "Tinha até um ASCII lá escondido ali", revelou Flavio.

Estrutura de governança hierárquica

O projeto estabeleceu quatro níveis de acesso baseados na estrutura UOR (Unidade Organizacional) do banco:

  1. Acesso diretoria: Visibilidade exclusiva para nível executivo
  2. Acesso superintendência: Controle sobre unidades subordinadas
  3. Acesso rede: Visão departamental segmentada (17 centros com 300 funcionários cada)
  4. Acesso restrito: Governança ampla para auditoria

Cronologia e resultados quantificados

  • 150 rotinas diárias centralizadas sob governança única
  • Redução de 6 meses para 2 semanas na implementação final
  • 4.000 jobs gerenciados (pequeno comparado aos 460.000 do mainframe corporativo)
  • Três tecnologias integradas: Java (legacy), SAS (processamento pesado) e ChatGPT (futuro)

"O maior diferencial foi trabalhar com múltiplas tecnologias sem migração forçada. O custo de migração de aplicações Java antigas superava os benefícios", explicou Flavio, destacando o pragmatismo da solução.

Os representantes do Banco do Brasil chegaram a cogitar o uso de ferramentas open source, mas a criticidade bancária exigia suporte garantido, e isso levou à opção pela solução da BMC.

Setores verticais em diferentes estágios de maturidade

O vice-presidente da BMC mapeou níveis de adoção por vertical e encontrou disparidades significativas no mercado brasileiro:

Setor financeiro: benchmark mundial

"O nível de maturidade do segmento financeiro hoje no Brasil é benchmark mundial", resultado de volatilidade regulatória constante que força a adaptação tecnológica acelerada. "

Agronegócios: potencial inexplorado

"O Brasil tem potencial de ser líder em tecnologia para agricultura. Ainda não estamos lá, mas é prioridade nossa entrar no agro". Rodrigues vislumbra a integração de dados de drones para irrigação e controle de pragas como oportunidade emergente.

Varejo: complexidade crescente

"Todas as empresas acabam tendo uma fintech dentro de casa", observou o executivo, citando o caso de um retailer mexicano com 47 warehouses perdendo vendas por falta de orquestração de estoque.

Um exemplo do impacto do Control-M, a ferramenta de orquestração da BMC, no varejo é a Via Varejo: "Saímos de 3 dias entre colocar o pedido e o produto chegar na casa do cliente para menos de um dia".

Perspectivas regionais e geopolíticas

Ao mapear oportunidades na América Latina, Rodrigues priorizou Brasil, México e Argentina como mercados principais, e destacou a resiliência argentina durante a crise econômica: "Mesmo no momento mais difícil de crise na Argentina, os clientes se mantiveram conosco o tempo todo. Não tivemos attrition porque fazemos missão crítica".

A estabilidade operacional justifica-se pela natureza dos clientes: "São bancos, empresas aéreas. O dinheiro não pode parar".

O BMC Day 2025 evidenciou a maturidade tecnológica do mercado brasileiro, posicionando o país como um laboratório regional para a integração mainframe-cloud-IA. Enquanto fintechs nascem "cloud-native", instituições tradicionais demonstram capacidade de modernização sem ruptura arquitetural, aproveitando décadas de investimento em infraestrutura crítica.

Para CIOs brasileiros, o desafio transcende a escolha entre legacy e modernidade: trata-se de orquestrar ambos em um ecossistema coeso, que maximize o retorno sobre investimentos existentes enquanto habilita a inovação futura. A experiência do Banco do Brasil comprova viabilidade desta abordagem híbrida, oferecendo um roadmap replicável para instituições de grande porte.

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