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Empatia algorítmica: como preservar a cultura organizacional no mundo da IA?

Proteger a cultura organizacional no novo cenário passa também por valorizar o tempo, a energia e o bem-estar de quem constrói valor todos os dias.

À medida que a transformação digital avança, uma nova realidade começa a se consolidar nas organizações com a convivência entre humanos e agentes de inteligência artificial (IA). Se antes o desafio era equilibrar o trabalho remoto com o presencial, agora o cenário evolui para equipes compostas por colaboradores humanos e sistemas inteligentes que participam ativamente dos processos corporativos.

Não à toa, segundo análises do Gartner, até 2028, cerca de 15% das decisões rotineiras nas empresas serão tomadas de forma autônoma por agentes de IA. Essa presença está em diferentes frentes, como na criação de documentos, no atendimento ao cliente, no desenho de fluxos de usuários e até no desenvolvimento de código.

Com esse nível de protagonismo, os agentes deixam de ser apenas ferramentas de apoio e passam a ocupar papel ativo na dinâmica organizacional, junto com os profissionais, fazendo parte da cultura da empresa, que é construída diariamente, com os comportamentos e os valores priorizados pelos líderes e replicados pelos colaboradores.

Essa é uma rotina fácil de ser mantida quando apenas os seres humanos convivem. No entanto, como garantir que essa cultura se mantenha viva quando interagimos com sistemas que não têm naturalmente empatia, princípios ou bom senso?

A resposta está no design intencional, pois embora uma IA não compreenda valores humanos como um colaborador, é possível projetar sistemas que operem dentro de marcos culturais. Isso inclui agentes que se comuniquem com cortesia, reconheçam limites, saibam encaminhar casos sensíveis para humanos e evitem decisões padronizadas que desconsiderem o contexto.

Mas isso exige cuidado, é preciso design criterioso, supervisão constante e uma atenção genuína aos impactos da tecnologia. Especialmente porque não é possível deixar que o ritmo das máquinas, implacável e sem pausas ou frustrações, se torne o padrão esperado dos humanos.

Lideranças devem lembrar que a IA não cansa, não erra visivelmente e responde em segundos. Diferente da forma como as pessoas interagem. E proteger a cultura organizacional nesse novo cenário passa também por valorizar o tempo, a energia e o bem-estar de quem constrói valor todos os dias.

Garantir que um agente de IA esteja alinhado à cultura corporativa é essencial. Para isso, é preciso avaliar se ele reflete o tom e os valores da empresa, respeita o tempo, as emoções e as decisões humanas, reconhece quando não tem uma resposta adequada, promove a liberdade do usuário em vez de impor decisões, incorpora cortesia ou leveza de forma autêntica e, por fim, se há uma supervisão constante de seu desempenho para assegurar que continue operando em sintonia com a cultura organizacional.

Embora não “seres vivos”, essas ferramentas impactam profundamente o ambiente humano das organizações. A cultura empresarial não se imprime em um manual: ela se vive. E, agora, também se treina, se programa e se orquestra. Então, preservar a cultura organizacional no contexto da IA não é apenas uma responsabilidade ética, mas sim uma estratégia essencial para manter o engajamento, a coesão e a identidade das empresas em um mundo cada vez mais digital.

Sobre o autor: Ricardo Recchi é regional manager Brasil e Portugal da GeneXus, empresa especializada em plataformas Enterprise Low-Code que simplificam o desenvolvimento e a evolução de softwares por meio da inteligência artificial

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