Líderes fazem previsões tecnológicas para o futuro da década

O que manterá os CIOs ocupados nos próximos 10 anos? Do aprendizado de máquina à segurança cibernética, líderes de TI fornecem informações sobre as tecnologias que serão aceleradas na próxima década

É difícil prever como a tecnologia poderá influenciar as empresas no futuro, mas essa falta de clareza não impede que analistas e especialistas façam suas apostas para o ano que vem. Na verdade, os prognósticos certamente proliferaram no início de 2020. Era um novo ano e, mais uma vez, hora de analisar como a IA, a IoT, a cibersegurança e uma ampla gama de outras ferramentas tecnológicas poderiam impulsionar ou inviabilizar as empresas modernas. 

No entanto, ainda que a tecnologia avance rapidamente, tentar prever qualquer coisa com um ano de antecedência pode ser uma visão míope. Vale a pena olhar mais adiante para as previsões das tecnologias futuras tendo em vista um melhor preparo das empresas para as consequências duradouras do planejamento de novas iniciativas tecnológicas e da gestão das antigas. 

Alguns executivos seniores ofereceram seus insights sobre as previsões tecnológicas e o que poderia acontecer ao longo da década, desde tópicos familiares, como os perigos do aprendizado de máquina e do crime cibernético, até questões que não geram tanto debate. 

A tecnologia não substituirá os humanos 

O debate sobre se a tecnologia substituirá o trabalho humano é tão antigo quanto a Revolução Industrial. Muitos líderes de TI reconhecem que alguns desenvolvimentos, incluindo a inteligência artificial, a automação de processos robóticos e os carros autônomos, substituirão os profissionais humanos, mas vários outros sustentam que essas tecnologias criarão diferentes posições de trabalho que deverão ser preenchidas por pessoas. 

Vipul Nagrath, CIO global da ADP, está entre aqueles que acreditam que sempre haverá lugar para muitos profissionais de carne e osso. “Como há uma mudança de trabalho, sempre haverá a necessidade de profissionais para escrever os programas, os algoritmos”, diz ele. E as novas ideias podem levar a novos resultados. "O smartphone, por exemplo, criou mais indústrias do que as destituiu", diz Nagrath.

Embora as pessoas agora confiem nos aplicativos dos smartphones para irem de A a B, reduzindo assim a necessidade de mapas em papel, os mapas compatíveis com GPS criaram muitas novas oportunidades de negócios dentro das aplicações digitais, diz ele.

Vipul Nagrath.

Assim como a ideia de robôs assumirem cargos humanos causa preocupação, a IA desenfreada também gera medo. O erro humano ou as más intenções na programação dos sistemas de aprendizado de máquina levaram a previsões de que a inteligência artificial poderia dar errado.

Várias empresas de tecnologia têm pressionado por regulamentações em torno da tecnologia, com o objetivo de abordar questões sobre possíveis vieses e falta de precisão. James Carder, CSO e vice-presidente da empresa de segurança LogRhythm Labs, chegou a prever nessa década que a IA manipulada poderia levar pessoas à prisão por engano.

Apesar dos alertas sobre o preconceito humano no treinamento das ferramentas, o sistema legal baseia-se na tecnologia para lidar com um grande volume de casos, deixando a porta aberta para o tipo de situação que poderia implicar alguém em um crime, de acordo com Carder. “Você pode enganar a IA se cadastrar dados errados e considerá-los corretos. Você pode pegar esses dados e dizer que está tentando alcançar X ou Y”, explica ele. Mas, na realidade, seus resultados tenderão a uma conclusão predeterminada.

Na ADP, os funcionários já estão cientes dos perigos do preconceito e de outros usos indevidos da inteligência artificial, diz Nagrath. A empresa favorece a inteligência artificial explicável (xAI) em suas inovações tecnológicas de folha de pagamento, um processo que permite às pessoas inspecionar e revisar a origem dos dados para ver como foram alcançados os resultados impulsionados pela tecnologia, de acordo com Nagrath.

Tal garantia será importante se a IA determinar cada vez mais os resultados financeiros, como as ordens de pagamento. Os funcionários vão querer saber o que está por trás da compensação de um pagamento, obrigando a ADP e os seus clientes a explicarem, em tempo real, como esses valores foram calculados, diz o executivo. 

James Carder.

Os EUA têm a sua própria lei de privacidade 

A União Europeia tem regras de GDPR sobre como as empresas que fazem negócios com seus cidadãos devem gerenciar e proteger os dados desses clientes, mas os Estados Unidos não têm uma lei geral desse tipo.

Isso poderia ter mudado em 2020, quando o Congresso estava pelo menos considerando uma lei semelhante, diz Anurag Kahol, CTO e cofundador da empresa de segurança na nuvem Bitglass. Em 2020, entrou em vigor na Califórnia uma lei de privacidade do consumidor e a legislação de Nova York está considerando algo parecido.

Mas uma lei federal abrangente "se faz necessária para evitar uma colcha de retalhos de diferentes leis de privacidade de dados em cada estado, para facilitar mais negócios internamente e permitir o comércio internacional", diz Kahol. "Enfrentar inúmeras regulamentações pode ser uma barreira impeditiva para as empresas estrangeiras ingressarem no mercado norte-americano". 

Anurag Kahol.

5G pode ser revolucionário – ou não

Há vários anos, a tecnologia 5G tem sido apontada como o próximo melhor avanço. Espera-se que ela tenha uma latência menor do que as tecnologias celulares anteriores, melhorando assim a capacidade de computação para as tecnologias de ponta, bem como aquelas conectadas à IoT e a outros serviços digitais. Mas o 5G foi uma previsão tecnológica que, agora, está sendo implementada pouco a pouco, com as empresas de telecomunicações construindo infraestruturas mais lentamente do que o previsto. 

Ainda não se sabe quão robusto será o 5G, o que levará as empresas a prender a respiração e a não realizar grandes investimentos neste momento. Nagrath diz que a abordagem “mobile-first” da ADP continuará, independentemente da velocidade de implementação do 5G.

"Atingiremos a capacidade de fazer coisas com dispositivos móveis que não temos hoje, e isso se aplica a muitos agentes do setor", diz ele. Mesmo assim, a ADP ainda não pode planejar em torno do 5G. A inovação terá que continuar com as ferramentas oferecidas hoje.

Nagrath brinca dizendo que seu trabalho do dia a dia continua, dependendo do 5G ou de um roteador wi-fi. 

A segurança cibernética influenciará nas fusões e  aquisições 

Chris DeRamus, cofundador e diretor de tecnologia da empresa de segurança cibernética DivvyCloud, previu que as empresas serão mais cautelosas ao se moverem para adquirir outras empresas ou concluir fusões.

Ele lembra da violação de 339 milhões de registros de dados de clientes da rede de hotéis Starwood que a empresa anunciou logo após ter sido adquirida pelo Marriott. "As organizações colocarão a segurança na nuvem na vanguarda do processo [de M&A]", diz DeRamus, acrescentando que elas farão isso por meio de auditorias abrangentes das infraestruturas na nuvem das empresas com as quais estão se fundindo ou adquirindo. 

Chris DeRamus.

Há promessa, mas cuidado, com a biometria e a IAM 

DeRamus diz que acredita ser uma abordagem robusta que as organizações estejam tentando proteger os ativos por meio da gestão de identidade de acesso (IAM, da sigla em inglês), mas advertiu que é mais difícil de gerenciar do que parece.

“Nessa nova década, os profissionais de segurança descobrirão que o IAM é uma área em que se pode perder o controle rapidamente e seria muito difícil recuperá-lo”, diz. Enquanto a TI podia auditar previamente as impressões digitais de 1.000 funcionários conectados a servidores de mainframe, os profissionais de segurança agora devem estar cientes dos milhares de gateways na nuvem. 

"As abordagens e estratégias do mundo dos data centers não são transferidas", diz DeRamus. Ele recomendou o estabelecimento de estruturas solidificadas de contas na nuvem, "começando pela restrição do que as pessoas têm acesso". Isso significa dividir os usuários em grupos para recursos específicos. A autenticação biométrica se tornou uma ferramenta de login popular, mas Carder alerta que, embora pareça difícil hoje, no futuro ela poderá acarretar um problema ainda maior do que uma senha perdida.

"Algumas pessoas menos sortudas poderão ter suas informações biométricas roubadas e usadas para cometer repetidas fraudes", prevê. “Se os dados do seu cartão de crédito são roubados, você pode facilmente pedir outro, com um número diferente. Mas o que acontece se as características do seu rosto forem roubadas? Uma vez que essas informações ficam comprometidas, elas não podem ser alteradas.”

O especialista acrescenta, ainda, que as consequências dos dados biométricos hackeados poderiam atrair um problema particularmente grande na área da saúde, transformando a segurança e as regulamentações de acesso mais rigorosas em questões urgentes que precisam ser tratadas imediatamente. 

A pesquisa percorrerá um longo caminho na década de 2020 

Alex Holden, especialista em segurança da associação de tecnologia sem fins lucrativos ISACA e CISO da consultoria Hold Security, observa como cada década teve seu próprio tema relacionado à tecnologia. 

“Na década de 1990, lutávamos para evitar que os nossos sistemas falhassem. Na década de 2000, trabalhamos na estabilidade e na funcionalidade. Na década de 2010, batalhamos pela disponibilidade e contra os atentados. Agora, na década de 2020, é uma corrida contra o tempo", diz.  

Essa corrida é contra as ameaças cibernéticas que estão alcançando, de forma mais eficaz e em ritmo mais rápido, setores que necessitam de especialistas em segurança, apesar de terem muitos produtos com essa finalidade, de acordo com Holden.

Quando confrontadas com tais dificuldades, ele recomenda que as empresas façam mais do que confiar nos produtos de segurança e na consultoria desses fornecedores. "Não se pode simplesmente comprar um produto de prateleira e acreditar que estará seguro", alerta. “E você não quer apenas obter dos fornecedores que têm uma solução informações sobre ameaças. É mais do que provável que eles vendam algo que poderá resolver um problema, nada mais além disso.”  

Alex Holden.

 Por outro lado, a década de 2020 exige autodidatismo e autoconsciência sobre segurança cibernética e outras questões tecnológicas, diz Holden. Os executivos seniores devem ler diariamente os relatórios dos especialistas em tecnologia sobre segurança e mergulhar em pesquisas objetivas que informem como seus setores estão lidando com a tecnologia. De acordo com o executivo, é uma batalha de alto risco para a qual existe uma analogia militar. Se você é um general, precisa conhecer a situação das tropas hoje, e não a de ontem”, explica. "As coisas mudam rápido."

 

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