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Eficiência operacional turbinada: a hiperautomação redefine a TI nas empresas brasileiras
Em um cenário onde a pressão por resultados colide com limitações de recursos, a hiperautomação emerge como estratégia essencial para transformar operações reativas em vantagem competitiva sustentável no ecossistema digital brasileiro.
Em 2025, mais de 70% das equipes de TI no Brasil dedicam seu tempo a tarefas puramente operacionais, segundo levantamento da PwC. Este cenário revela uma contradição fundamental: enquanto as organizações demandam inovação acelerada, seus times técnicos permanecem presos na manutenção do status quo.
A sobrecarga operacional não é apenas um incômodo – tornou-se uma barreira competitiva crítica. Empresas brasileiras enfrentam uma tríplice pressão: entregar mais rapidamente, com qualidade superior e custos controlados. Neste contexto, a eficiência operacional transformou-se de diferencial opcional em imperativo estratégico.
As abordagens tradicionais de automação, frequentemente fragmentadas e isoladas, mostram-se insuficientes para enfrentar estes desafios multidimensionais. É neste cenário que surge a hiperautomação como resposta integrada e estratégica, prometendo não apenas automatizar tarefas, mas redesenhar fundamentalmente como a TI opera e entrega valor no ambiente empresarial brasileiro.
Hiperautomação decodificada: uma orquestra tecnológica integrada
A hiperautomação representa muito mais que uma evolução da automação convencional – é uma abordagem holística que busca automatizar tudo o que pode e deve ser automatizado de forma integrada e inteligente. "A hiperautomação combina múltiplas tecnologias para maximizar o potencial de automação nas organizações, criando um ecossistema digital coeso e inteligente", explica o relatório da Economia SP.
Este ecossistema tecnológico funciona como uma orquestra sincronizada, onde cada componente desempenha um papel complementar:
- RPA (Automação Robótica de Processos): Atua como os "braços digitais" executando tarefas repetitivas baseadas em regras em sistemas legados e modernos.
- Inteligência Artificial e Machine Learning: Funcionam como o "cérebro" analítico, processando dados complexos, identificando padrões e tomando decisões adaptativas que melhoram continuamente.
- Process Mining e Task Mining: Operam como "sistemas de diagnóstico" que revelam a realidade dos fluxos de trabalho, expondo ineficiências invisíveis e oportunidades de otimização antes despercebidas.
- Plataformas Low-Code/No-Code: Servem como "ferramentas democratizadas" que permitem que profissionais sem expertise técnica profunda possam criar e modificar automações.
- Analytics avançados e BI: Funcionam como "painéis de controle" que monitoram desempenho, medem ROI e identificam novas oportunidades de melhoria contínua.
O diferencial da hiperautomação está justamente na integração harmônica destas tecnologias, criando um ciclo virtuoso de descoberta, implementação, análise e refinamento contínuo que transcende simples automações pontuais.
Impactos transformadores nas operações de TI brasileiras
Quando implementada estrategicamente, a hiperautomação revoluciona múltiplas dimensões das operações de TI:
Service Desk reinventado: A combinação de chatbots inteligentes com automação de fluxos permite resolver até 80% dos tickets de nível 1 sem intervenção humana, conforme dados da Stefanini. O provisionamento de acessos, antes processo burocrático e lento, torna-se instantâneo e seguro através de fluxos automatizados com verificações embutidas.
Operações de infraestrutura preditivas: Algoritmos de IA analisam continuamente padrões de logs, tráfego e performance, identificando potenciais falhas com até 72 horas de antecedência. Segundo a TI Inside, "sistemas baseados em IA podem prever falhas de hardware com precisão de 85%, permitindo que equipes realizem manutenções planejadas em vez de emergenciais".
DevOps potencializado: Pipelines de CI/CD automatizados aceleram significativamente os ciclos de desenvolvimento. A RST Software reporta que "times de desenvolvimento com hiperautomação em seus processos reduzem o tempo de entrega em 40% enquanto aumentam a qualidade do código".
Segurança cibernética proativa: Ferramentas de hiperautomação aplicadas à segurança permitem resposta automatizada a ameaças de baixo e médio risco, liberando especialistas para focar em incidentes críticos. A Meme Digital indica que "empresas com resposta automatizada a incidentes de segurança reduzem o tempo médio de resolução em 60%".
Gestão otimizada de recursos: A hiperautomação permite monitoramento continuo de uso de licenças e recursos cloud, ajustando dinamicamente alocações para eliminar desperdícios. "A gestão automatizada pode reduzir custos com licenciamento em até 30% em grandes organizações", afirma a RPA Group.
Implementação estratégica no contexto brasileiro: desafios e oportunidades
A jornada de hiperautomação no Brasil requer planejamento cuidadoso e adaptação às particularidades locais. Uma abordagem estruturada em etapas progressivas maximiza chances de sucesso:
1. Mapeamento e diagnóstico: O Process Mining emerge como ferramenta fundamental para visualizar processos reais antes de automatizá-los. "Iniciar automações sem mapeamento detalhado é como construir uma casa sem planta - você provavelmente automatizará processos ineficientes", alerta a AOOP.
2. Seleção de casos de uso prioritários: Priorizar processos de alto volume, frequência e impacto operacional que podem gerar resultados rápidos. O Índice de Transformação Digital Brasil 2024 revela que "70% das iniciativas bem-sucedidas começaram com projetos piloto bem definidos e de rápida implementação".
3. Estratégia para sistemas legados: O cenário brasileiro apresenta desafio particular com sistemas legados prevalentes. Soluções eficazes incluem criação de camadas de API, microsserviços intermediários e uso de RPA como ponte temporária enquanto se avança na modernização.
4. Abordagem centrada em pessoas: A resistência cultural representa barreira significativa. Segundo a Bot City, "o medo da automação é identificado em 65% das empresas brasileiras". Programas de capacitação, comunicação transparente e envolvimento das equipes desde o início são essenciais para superar resistências.
5. Modelo de governança adaptado: Centros de Excelência em Automação (CoEs) com representação multidisciplinar funcionam como aceleradores de adoção, estabelecendo padrões, compartilhando conhecimento e priorizando iniciativas de maior impacto.
6. Conformidade com LGPD: Atenção especial às exigências regulatórias brasileiras, especialmente quanto à proteção de dados pessoais em processos automatizados. Mecanismos de anonimização, consentimento e auditabilidade devem ser incorporados desde a concepção das automações.
Casos inspiradores em território nacional
A transformação já está em curso em diversos setores da economia brasileira:
Setor bancário: Uma das maiores instituições financeiras do país implementou hiperautomação em seu fluxo de crédito para pessoas físicas, combinando RPA para captura de dados com IA para análise documental. O resultado foi redução de 70% no tempo de aprovação e queda de 45% nas inconsistências.
Telecomunicações: Uma operadora com mais de 40 milhões de clientes implementou um ecossistema integrado com chatbots de IA + RPA + Process Mining, automatizando 85% das solicitações básicas de suporte e reduzindo em 30% o volume de tickets escalados para níveis superiores.
Varejo: Uma rede nacional de supermercados utilizou Task Mining para identificar atividades repetitivas que consumiam tempo dos analistas de TI. A automação desses processos liberou 23% das horas produtivas, redirecionadas para iniciativas estratégicas de inovação.
Tendências emergentes para 2025-2026
O horizonte da hiperautomação no Brasil apresenta tendências promissoras que já começam a se materializar:
Democratização acelerada: Plataformas Low-Code/No-Code estão transformando quem pode criar automações. O movimento "Citizen Automation" ganha força, com profissionais de negócio desenvolvendo suas próprias soluções com supervisão técnica mínima.
IA Generativa como catalisadora: Modelos generativos estão sendo utilizados para analisar processos, identificar candidatos à automação, gerar código para bots e documentação técnica. "A IA Generativa está redefinindo o escopo do que consideramos automatizável", observa a TI Inside.
Automation Ops: Seguindo princípios de DevOps, organizações adotam práticas de Automation Ops para gerenciar o ciclo de vida completo das automações, garantindo qualidade, segurança e evolução contínua.
Hiperautomação como serviço (HaaS): Modelos de contratação flexíveis ganham espaço no mercado brasileiro, permitindo que empresas de menor porte acessem tecnologias avançadas sem grandes investimentos iniciais.
O imperativo estratégico brasileiro
A hiperautomação não representa apenas ganho operacional - é um reposicionamento estratégico para a TI. Quando implementada corretamente, transforma departamentos tradicionalmente vistos como centros de custo em habilitadores de crescimento e inovação.
O Gartner prevê que "30% das empresas automatizarão mais da metade de suas atividades de rede até 2026". Para organizações brasileiras, este não é apenas um horizonte tecnológico, mas um imperativo competitivo em um mercado cada vez mais digitalizado.
A jornada começa com passos práticos: avalie seus processos atuais, identifique gargalos operacionais, priorize casos de uso de alto impacto e baixa complexidade para vitórias rápidas. Implemente um programa de gestão de mudança que envolva equipes desde o início, enfatizando como a hiperautomação potencializa capacidades humanas em vez de substituí-las.
A revolução da hiperautomação na TI brasileira não é uma questão de "se", mas de "quando" e "como". As organizações que liderarem esta transformação não apenas sobreviverão no ambiente competitivo de 2025, mas definirão novos padrões de excelência operacional e capacidade de inovação que impulsionarão o próximo capítulo da transformação digital no Brasil.