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O Brasil virou o paraíso dos golpistas digitais, e a culpa não é só da tecnologia
À medida que deepfakes e fraudes sofisticadas se tornam rotina, cresce a possibilidade de normalizar a desconfiança e colocar em xeque o que é real e o que é manipulado, alerta o CEO da Portão 3.
Nenhum outro país do mundo é tão vulnerável a golpes virtuais quanto o Brasil. O dado vem do Índice de Fraude 2025, levantamento global da Veriff, empresa especializada em verificação de identidade e segurança digital. Segundo o estudo, os brasileiros sofrem cinco vezes mais ataques online do que cidadãos dos Estados Unidos e do Reino Unido, uma diferença que escancara o tamanho do desafio nacional diante da nova geração de crimes digitais.
Os números confirmam uma tendência preocupante: 26% dos brasileiros afirmam ter sido vítimas de fraudes nos últimos 12 meses, contra 15% nos EUA e 10% no Reino Unido. As perdas financeiras também chamam atenção. Quase 40% das vítimas perderam até R$ 1.300, e 5% relataram prejuízos superiores a R$ 26 mil em um único golpe. Por trás dessas estatísticas, há uma combinação perigosa de confiança excessiva, desinformação e tecnologia avançando mais rápido do que a capacidade de proteção do usuário.
O avanço da inteligência artificial e de deepfakes transformou o cenário das fraudes online. Golpistas já não precisam dominar técnicas complexas: ferramentas generativas reproduzem rostos, vozes e comportamentos com precisão suficiente para enganar até usuários atentos. De acordo com o levantamento, 60% dos brasileiros afirmam ter sofrido ao menos uma tentativa de ataque impulsionado por IA, enquanto a média global é de 78%. O que antes parecia um problema técnico tornou-se um desafio social e ético.
Para o especialista em tech e CEO da Portão 3 (P3), Fernando Nery, a vulnerabilidade brasileira não está ligada apenas à tecnologia. “O país é um dos que mais passam tempo conectados no mundo, e um dos que menos investem em educação digital. Essa combinação cria o ambiente ideal para golpes alimentados por fake news, aplicativos falsos e promoções fraudulentas. A ‘cultura do clique rápido’ faz com que muitos usuários ignorem sinais básicos de alerta e se tornem alvos fáceis”, afirma.
Ainda assim, o estudo traz um ponto positivo: os brasileiros demonstram maior disposição para adotar ferramentas de proteção digital do que a média global. Essa abertura indica espaço para políticas públicas, programas educacionais e estratégias corporativas que traduzam tecnologia em orientação prática e acessível.
O maior risco, porém, vai além do prejuízo financeiro. À medida que deepfakes e fraudes sofisticadas se tornam rotina, cresce a possibilidade de normalizar a desconfiança e colocar em xeque o que é real e o que é manipulado. Nesse contexto, o Brasil ocupa um papel de alerta global: inovação sem educação digital aprofunda desigualdades e fortalece o crime cibernético.
Enquanto a segurança online for tratada apenas como um tema técnico, e não como uma questão cultural, o país seguirá vulnerável. No centro da revolução tecnológica, o Brasil precisa decidir se quer ser vítima ou protagonista da era digital.
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